terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Frasco de Veneno (ou A Tentação) – Alguns breves pensamentos sobre a queda do homem e sobre a "Justiça Divina"



Imaginemos a cena: Um pai chega em casa com um frasco nas mãos, embrulha o tal recipiente em um lindíssimo e colorido papel de presentes, coloca-o na mesa de centro da sala de estar, chama seu filhinho, uma criança de pouca idade e ainda menos entendimento, aponta o objeto sobre a mesa e diz:
- Filho, vê este embrulho bonito e colorido, extremamente atraente aos seus olhos e curiosidade? Então... Dentro dele há veneno, se você beber, vai morrer. Papai está deixando este vidrinho aqui na mesa de centro, ao alcance de suas mãos, onde você o pode pegar e beber a qualquer momento quando eu não estiver vendo. Mas você não deve pegar, certo?
A criança, provavelmente sem entender lá muita coisa, concorda e se afasta a brincar. Porém, a semente da curiosidade está plantada...
Não obstante, chega à casa desta criança uma outra, bem mais velha, bela e obviamente, visto a idade mais avançada, muito superior em inteligência ao primeiro infante de nossa história. Cheia de maus pensamentos,  por certo já sendo admirada por sua beleza e inteligência e sabendo disso, passa a dizer assim para a sua companheira mais jovem:
- Beba da garrafa da sala, o embrulho é tão belo, o liquido tem uma cor linda e deve ser saboroso... Veja, eu sei o que digo, sou mais velho e é certo que tu não vais morrer se fizer o que estou dizendo. Seu pai estava brincando, caso contrário, se fosse tão ruim assim, porque ele deixaria a garrafa bem ao seu alcance?

Vamos brincar de “Você Decide...”: Qual o provável final para este pequeno conto?

Opção 1:

A criança em questão, mesmo inexperiente e sem saber diferenciar o certo do errado, o bem do mal e tentada não só pela beleza do objeto proibido, mas também pelas palavras de um jovem bem mais velho, inteligente e belo que ela não tocará o frasco, obedecendo a seu pai ou...

Opção 2:

Obviamente, nossa pequena personagem, em suas inexperiência e inocência, tentada pela inteligência das palavras da criança mais velha, assim como a beleza e curiosidade relacionadas ao frasco citado, acabará tomando o conteúdo e posteriormente, morrendo?

Detalhe sórdido: O pai não somente sabia que a criança mais velha tentaria convencer seu jovem filhinho a beber do frasco como permitiu a livre entrada da mesma em sua sala... E não fez NADA para impedir.

Detalhe sórdido 2:  O pai, dado uma certa onipresença sua no recinto, assistiu de forma anônima ao desenrolar da trágica história que, sejamos sinceros, sabemos como acaba...

Qual sua opinião a respeito deste pai da nossa história, que deliberadamente pôs veneno ao alcance desta inocente alma e permitiu que outra, esta já não tão inocente, a fizesse beber? Acho que crueldade é uma palavra boa para começar...

Você conhece esta história de algum outro lugar?


Para pesquisa:

A QUEDA DO HOMEM (Gênesis 3: 1-24)

“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.
E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim.
E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?
E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?
Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.
Então o SENHOR Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.
E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.
E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.
Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo.
No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.
E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes.
E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.
Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente,
O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.
E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.”

DEPOIMENTOS BÍBLICOS SOBRE A ONIPOTÊNCIA DE DEUS

Gn.18.14.: “ACASO, PARA O SENHOR HÁ COUSA DEMASIADAMENTE DIFÍCIL?”

Jó.42.2.: “BEM SEI QUE TUDO PODES, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.”

Sl.93.4.: “... O SENHOR NAS ALTURAS É MAIS PODEROSO do que o bramido das grandes águas, do que os poderosos vagalhões do mar.”

Sl.115.3.: “No céu está o nosso DEUS E TUDO FAZ COMO LHE AGRADA.”

Jr.32.17.: “Ah! SENHOR DEUS, EIS QUE FIZESTE OS CÉUS E A TERRA COM O TEU GRANDE PODER E COM O TEU BRAÇO ESTENDIDO; cousa alguma te é demasiadamente maravilhosa.”

Ou seja, ele PODIA ter impedido, já que é onipotente...

DEPOIMENTOS BÍBLICOS SOBRE A ONIPRESENÇA DE DEUS

Sl.139.1.2.4.4 e o restante....: [Salmo de Davi para o músico-mor] SENHOR, tu me sondaste, e me conheces.
Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.
Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.
Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó SENHOR, tudo conheces.
Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão.
Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir.
Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também.
Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,
Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim.
Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa”

Ou seja, ele ESTAVA lá assistindo já que é onipresente...

DEPOIMENTOS BÍBLICOS SOBRE A ONICIÊNCIA DE DEUS

Jó.11.7,8.: “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso? COMO AS ALTURAS DOS CÉUS É A SUA SABEDORIA; que poderás fazer? MAIS PROFUNDA É ELA DO QUE O ABISMO; que poderás saber?”
Sl.147.5.: “grande é o Senhor nosso e mui poderoso; O SEU ENTENDIMENTO NÃO SE PODE MEDIR.”
Rm.11.33.: “Ó PROFUNDIDADE DA RIQUEZA, TANTO DA SABEDORIA COMO DO CONHECIMENTO DE DEUS! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!”.

Ou seja, ele antes mesmo do ocorrido, já sabia que iria acontecer...

Em resumo, temos um ser superior que cria o ser humano e o põe a prova em um teste injusto (lembre-se, a própria bíblia diz que Lúcifer, que usou uma serpente para tentar Eva, era extremamente superior em inteligência e experiência a ela, assim como a própria bíblia diz que a serpente era o mais belo animal do paraíso..., repito: injusto...), sendo que o citado teste levará a humanidade a uma cadeia de acontecimentos que só nos trarão sofrimentos, como as guerras, as doenças, a fome, a morte, o ódio, etc, etc, ect... Pior que isto era que o ser superior em questão SABIA que Eva não resistia ao teste e que tudo isso inevitavelmente aconteceria e mesmo assim não impediu...

Desta forma, algumas perguntas retóricas aos crentes de plantão:

Porque criar uma raça, fadada desde antes de seu surgimento, ao sofrimento, por conta de um teste em que falhamos?

Se era sabido (vou repetir para não restarem dúvidas: ONISCIÊNCIA) que não resistiríamos ao teste, porque, se éramos tão amados, fazê-lo?

Se o teste em si já era difícil de ser superado, porque permitir que um ser milhares de vezes superior a nós nos tentasse ainda mais aumentando o “nível de dificuldade” da citada prova?

Porque eu, e o resto inteirinho da humanidade, que não pedimos para nascer, muito menos para nascer pecadores, pagamos pelos erros de nossos “pais primordiais”?

Er... Amor pela criação, perdão eterno e justiça divina entram aonde mesmo nesta história?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

NADA...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Diego .. Parabéns!

Olá pessoal, estou aqui para não deixar passar em branco o aniversário do meu irmão Nético Diego.
Não diria que você está ficando mais velho e sim, mais experiente. É de se admirar um cara com a sua idade e que tem um pensamento totalmente diferente das outras pessoas da mesma idade, as vezes você até se julga com a mente de um "velho" kkk principalmente quando falamos de música.
Acredito eu que muitas coisas tenham acontecido nesse seu ultimo ano, tens feito muits amizades aqui no PDl, e conquistou um espaço em cada coração que ocupa essa galera do PDL.
Conheceu um Poeta exagerado que sempre falava super bem dos seus texto tentando te fazer acreditar que tú é um Escritor(não fuja disso). Muitas outras pessoas...
Criamos um Blog juntos(apesar de eu não aparecer muito lá foi uma ótima ideia).
Nossa cara são muitas coisas... Algumas inesqueciveis tipo algumas estórias ai sabe.. uma da ALICATE e outra de Um Bêbado e um cachorro... (kkkkkkkkk Não aguentei).
Aprendi muita coisa com você também cara, esteve ali algumas vezes nos meus momento de fraqueza para me dar um ombro amigo. Me ensinou muita coisa sobre música. São tantas coisas a agradecer...
Mas é isso ai, tudo que tenho a falar pra resumir é...
Parabéns mano, feliz aniversário e muitos anos de vida.
Que seus desejos sejam realizados.
Que essa simplicidade que existe dentro de tí nunca deixe de existir.
Que você nunca se esqueça desse seu fiel amigo Tiago (ou Poeta, tanto faz).
Bom... é isso, conte sempre comigo aew amigão, bele? Estás ligado que és meu irmão Nético não é?!
 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Triste visita

    Enquanto desço a rampa de entrada, rodeado de macas, cadeiras de roda e enfermos das mais variadas doenças, olho pro céu cinza que despeja uma chuva fina e gelada, em contraste com o calor abafado que aos poucos cede lugar ao agradável frio fora de época. Sinto grudado na minha pele o cheiro desagradável de formol, de remédio, de hospital. Detesto hospitais. Detesto o cheiro de hospital, o barulho das máquinas trabalhando para estender o prazo final dos acamados, os gemidos, o choro dos parentes, o ar triste e dolorido de quem perde aquele que ama frente ao olhar duro e resignado, às vezes frio, dos médicos, acostumados a esta rotina que particularmente, me enlouqueceria, caso tivesse eu de vivê-la diariamente. Acabou a parca meia hora de visita na UTI, tenho de voltar ao trabalho.
    O fone nos ouvidos enquanto volto ao escritório, quase a ponto de me fazer doer a cabeça de tão alto o som, não impede que meu coração se encha de tristeza e mágoa. As pessoas que passam, algumas me atirando um olhar vazio, também não impedem que eu comece a chorar na rua mesmo. Tento me controlar, afinal sou homem, não posso chorar. Mas é difícil, ainda mais quando recordo a cena que presenciei há pouco mais de cinco minutos. Um homem forte, 40 anos mal completados de uma vida ferrada, preso a no mínimo uns quatro aparelhos. Um cara que me viu crescer, me carregou na garupa, que tentou mais de uma vez me ensinar a gostar de futebol, um cara com o qual mais tarde fui em festas, com o qual bebi mais de uma cerva, com o qual aprendi a “cair em cima das guriazinhas”. Sempre nos demos muito bem, e não era para menos, éramos, cada um em sua geração, as “ovelhas negras”, os rebeldes. O tio predileto, o tio doido... O tio da festa... A ultima oportunidade em que convivi com ele, nas minhas férias de 2006, varamos o interior do estado numa kombi guiada entre conversas a gritos acima do barulho do motor, entregando mercadorias em mercados do século 19... Era o trampo dele, era meu divertimento. Depois disso casei, perdi contato com o cara e hoje, depois de quase quatro anos, o reencontrei. Com tubos rasgando sua boca, respirando de forma mecânica e agoniante, em coma induzido para evitar as atrozes dores que sente, inchado, gemendo e nada parecido com o homem que era na minha infância. Abracei minha mãe chorosa na entrada do quarto, seu irmão lutando pela vida na cama ao lado, e não consegui dizer muita coisa, a voz entalada como uma maçã inteira presa na garganta. Nunca me acostumo a isso. Já perdi muita gente amada. Pai, irmã, avô, e mesmo assim, a doença e a proximidade da morte de quem amamos destroça o coração. Sempre.
    Depois da visita breve, na qual mal me aproximei de meu tiozão para não cair no pranto, despedi-me de minha mãe e já no escritório, me tranquei no banheiro, e acima da tristeza que sentia na hora em que o via naquele estado, senti um misto de revolta e raiva. Contra ele. A situação, por mais triste, inegavelmente é culpa dele. Da sociedade em partes pequenas, mas a maior parte, dele. Drogas. Álcool. Cigarro. Vida desregrada de quem pouco se lixa para o futuro. Usamos juntos coisas que poderiam ter matado a nós dois. Parei antes, cresci antes quem sabe... Ele não teve a mesma força. Se faltaram motivos não sei. Só sei que seu pâncreas literalmente estourou dentro dele. Seus rins tiveram de ser ressucitados mais de duas vezes desde que entrou em coma e seus pulmões funcionam mecanicamente, aos trancos, e caso sair vivo dessa situação, haverão seqüelas. Várias seqüelas. E sei que sente dores inimagináveis, a ponto de que nem induzido ao coma profundo, consegue parar de senti-las. E meu tiozão, malandro, pegador, jogador amador em campos de sítios, que amava correr na grama enlameada depois da chuva atrás de uma bola, tem hoje poucas chances de sobreviver e mesmo que consiga, terá a vida que nunca quis, a vida chata de um doente.   
    Não faço campanha anti-drogas, não sou exemplo para ninguém, não quero que meu tio seja mártir de uma causa pela qual tanta gente morreu sem precisar. Afinal, é só mais um irresponsável pagando por atos irresponsáveis. Só queria contar para vocês que eu tive um tio, quase um irmão, que me carregou na garupa quando criança e me levou pra passear, me ensinou a “caçar”, riu comigo, me ensinou a curtir Legião, fez festas e idiotisses ao meu lado. E hoje está semimorto, com a garganta rasgada para permitir a entrada de uma sonda, pagando o caro preço de uma vida curtida acompanhado de cigarros, álcool e cocaína. Sabem o que minha família fez para ajudá-lo quando estava sadio? Quase nada. Sabem o que fazem agora? Vigílias, orações, doam noites ao lado de sua cama, choram e desesperam-se. E isso adianta porcaria nenhuma.

Diego Schirmer

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Talvez

Talvez você não leia esse texto até o final. Talvez você o ache muito chato. Talvez se bastasse o absurdo, hoje a dor seria menor, a indignação com o mundo me deixa mais louco que o possível. Talvez fosse mais fácil aceitar o mundo como é, e não fazer as perguntas filosóficas, pra que? Por quê? Por mais que eu tente não dá pra ser assim.

Talvez o medo da solidão impeça-me de dividir, talvez eu queira dividir, talvez as idéias nem sejam tão loucas, há algum tempo quando descobri o porquê de tantos porquês, descobri que talvez a sinceridade de mais me deixasse descontrolado e sem vida particular, tudo é um livro aberto, não há paredes no quarto nem no banheiro. A necessidade de amigos que me tornou dependente me deixou só. A distância machuca aqueles que precisam de carinho, afeto.

Talvez eu não consiga viver sozinho, talvez eu tenha medo da solidão apesar de nunca sentir medo de nada. Talvez ainda me falte uma injeção de confiança, ou talvez isso não seja necessário, pois sempre que preciso tenho amigos que me colocam pra cima. Mas por que sempre têm que me colocarem pra cima? Por que não é permitido viver um momento de solidão e ódio? Talvez seja por que a felicidade é mais sedutora, por que ser gótico é ser diferente? Talvez as vestimentas causem impacto na sociedade por que a diferença sempre acaba sendo a igual ignorância de todo mundo.

Talvez o xadrez deixe mesmo as pessoas loucas, mas quem sabe a verdade? Pensar de mais é ser louco? Talvez a poesia não seja uma arte e sim um meio de escape dos pobres e fracos de espírito. Também, quem mandou o mundo ser tão igual e tão diferente ao mesmo tempo, a vida que me pertence é bem mais cuidada pelo meu colega que por mim. A preocupação com preocupações alheias deixam as pessoas idiotas e intrometidas. Talvez isso fosse diferente se existisse uma bolha onde pudéssemos viver ao menos 12 horas por dia, mas ninguém garante que a morte exista.

Por que tudo sempre tem que fazer sentido? Por que existem tantas regas? Algumas tão sem sentido quanto quem as criou. Para ser igual? Essa seria a resposta mais conveniente. E se eu quiser escrever varias palavras aliadas, mas que nenhuma tenha ligação com a outra? E se eu quiser sair à noite totalmente nu gritando eu amo a liberdade? Com certeza eu seria preso, mas por que as pessoas que se dizem normais não se conformam com o fato de os loucos acharem que a loucura não existe. Pra mim a loucura não existe isso não diz nada sobre eu ser louco ou não, mas se eu for? E se eu viver uma vida dupla? Ou tripla quem sabe.

Talvez um dia eu descubra o nome do monstro que vive dentro de mim e que me insulta a dizer coisas que quero, mas que na verdade não deveria dizer, simplesmente por que a sociedade é chata e não compreendem os outros pelo fato de a mente ser um só e não uma equipe. Talvez eu ache chato repetir tantas vezes a palavra “talvez”, mas talvez seja por que a incerteza está em tudo, tudo pode ou não acontecer.


Por: Tiago Gomes Dos Santos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sacanagem

Olha-me com urgência enquanto me ataca: Rápida e ágil. Não existem outros termos que definam melhor a maneira como se aproxima de mim e empurra-me para o cubículo fechado, longe das vistas do público que caminha apressado pelo local. Em menos de um minuto em sua mão já repousam duas calças e uma camiseta, minha camiseta, por sinal. E ainda antes que eu possa impedir, já repousam no chão outras peças, jogadas lá às pressas e de forma ofegante. Nunca vi a menina, e mesmo assim, não posso deixar de admirar sua desenvoltura no que faz agora, parece no mínimo acostumada a fazer assim, como está fazendo comigo, com outras centenas de rapazes por dia, sem um mínimo de vergonha de encarar-me enquanto a espiava, respirando cada vez mais rápido, em sua função de apressar-me a despir-me...
Depois de estar praticamente nu, passo a adentra-me em cada compartimento, trato de penetrar em cada espaço oferecido a mim por aquela menina que sem mais nenhuma palavra, vai simplesmente os trazendo diante de mim, e que nem ao menos faço força para resistir. Alguns destes apertados, justos, que quase não comportam meu porte avantajado, me fazem gemer enquanto tento forçar neles minha entrada, outros, mais folgados, quem sabe acostumados a serem experimentados por tantos outros, comportam meu tamanho de forma suave e agradável. Acabo-me suado, quase jogado ao chão, e com minha consciência a acusar-me de tamanha entrega a prazeres tão mesquinhos, tamanha gulodisse e tão pouca força de vontade em resistir à tentação. Demorei a acabar, e mesmo tendo me esforçado tanto para evitar tais pensamentos acusadores e para saciar-me, ainda estou insatisfeito e ainda mais frustrado do que antes.
Enquanto visto-me novamente, ainda a ouço falar obscenidades que fariam corar o mais pervertido frequentador daquele local de perdição, daquele comércio de sacanagem... Tais palavras ditas com tanta sem-vergonhice me arrepiam até agora, e só de lembra-las sobe-me um rubor incontrolável a face:

“-Todas essas peças, senhor, lhe custarão R$ 568,80. Algo mais?”

Minha reação, que foi sair correndo como louco de dentro da loja diante de tamanha afronta ao meu bolso quase vazio, deve ter assustado a moça, que depois de tanto procurar roupas que servissem neste corpo acima do peso e me agradassem, deve ter ficado uma arara por eu não as ter comprado.

Mas convenhamos, 500 paus por duas camisetas GG e uma calça jeans tamanho “gordo”, é no mínimo uma cabeluda sacanagem!

Diego Schirmer

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dia dos pais - Um breve desabafo...

Me pediu um texto em homenagem ao seu pai. E eu, quase como que automaticamente, em menos de três minutos, enchi uma página de clichês bonitos, frases de efeito e máximas, quase todas, decoradas para serem ditas de forma robótica e insentimental, em situações como estas, em que não sei mesmo o que dizer. Sinto-me mal, agora que o texto entregue deve estar sendo passado a limpo, pela secretária de um cara cheio de grana, que mandará o citado texto para o seu velho, com belas frases escritas sem um único pingo de amor. Foram escritas por mim, para um pai de um quase estranho, para que um filho bem sucedido sinta em sua consciência a sensação de dever cumprido. Fórmula mágica, diga-se de passagem, são estes cartões comprados em lojas de lembranças, resgatados às pressas de dentro de uma caixa exposta no balcão, para que se tenha no coração o alívio do “fiz minha parte!”. Um cartão, um texto bonito escrito por um conhecido, um abraço, feliz dia dos pais, vamos logo acabar com este constrangimento...
Sinto pena daquele pai, que receberá meu texto escrito pela obrigação de um favor. Que tem um rico filho que não se digna a escrever um simples “Eu Te Amo”, mesmo que em infantis rabiscos numa folha de caderno, por ser muito mais fácil e conveniente comprar uma bela folha criada em escala industrial com dizeres genéricos impostos pelo comércio como emocionantes. Não que eu seja muito melhor que o filho em questão, já que os últimos presentes que dei ao meu coroa foram flores de plástico sobre um túmulo simples, alguma oração decorada no primário e poucas lágrimas que me forcei a derramar, para me sentir pelo menos mais humano, para me fazer acreditar, por segundos, que minha alma não havia sido devorada pela rotina e pelo costume. Perdi o meu pai cedo, quase não tive contato com ele e as poucas lembranças que guardo são de um homem cansado, esmagado pelo rolo compressor social, preocupado em ser o que a multidão esperava dele. Qualquer semelhança nem sei se é coincidência, não tive lá muito tempo de aprender algo com ele, e de qualquer forma, a maioria dos homens é isso mesmo, uma cópia imperfeita do modelo que a sociedade impõe. Homem trabalhador, casado, singularmente generalizado, com filhos e exemplos a dar. Engrenagem pouco azeitada a trabalhar até sua substituição, por uso excessivo.
Sinto pena daquele filho, que entregará ao seu genitor, ao senhor que junto de sua mãe o deu a vida, uma mensagem impessoal e que duvido tenha lido toda. Mas na verdade, quem sabe, seu pai nem leia a mensagem. Quem sabe, no final das contas, os cartões feitos sob a supervisão de sua mãe ou professora, na infância, mal tenham recebido um olhar do homem que tinha de sustenta-lo, e que só queria assistir ao jornal antes do sono preocupado. Dizem que os filhos seguem, inconscientemente os passos de seus antepassados.
Já compraste teu cartão, para seu pai e preparaste o abraço forçado? Já ensaiaste o cumprimento de chegada e a desculpa para, meia hora depois, cair fora da casa do velho?
Espero, com força e fé, que não.
Não sou ninguém para deixar mensagens bonitas para o dia dos pais. Não tive o meu, e tampouco tenho filhos. Mas eu sei o quanto faz falta, e isso me dá o direito a sentir inveja de quem tem e dizer: Perdoe-o, peça perdão, abrace-o, e mesmo que ele fuja, lhe deixe pelo menos saber que, embora tenha te machucado, se for esse o caso, é alguém importante. Não esqueça que o mundo também o fez sofrer. Não esqueça que o ser humano é falho, erra, e muitas vezes, demora-se a levantar. Falo como um filho que não pode mais tentar outra chance com um pai que pouco ensinou. Não darei presentes neste domingo. Também não os receberei. E isso, posso garantir, dói tanto quanto saber que quem tem essa oportunidade, a trata como simples passagem de data comercial.

Diego Schirmer

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Processo de Reavaliação I

Há momentos na vida em que velhas roupas devem ser encaminhadas à doação, ou ao lixo. Momentos em que livros velhos deixam de ter histórias para contar para você, e precisam contar aos outros sobre o que trazem dentro de si. Do ponto de vista de quem se desfaz, muitas vezes pode ser algo doloroso. Carregamos costumes, manias, hábitos às vezes desnecessários, mas nos apegamos demais a isso e é difícil abandona-los. Nossa carente condição humana nos faz ter de agarrar em coisas que nos dêem segurança, que nos mantenham na rotina e com isso nos façam parecer que está tudo bem. Mas às vezes não está. O medo de coisas novas, o receio em quebrar cadeias psicológicas e vícios reconfortantes no faz perder inúmeras possibilidades de seguir adiante. Na verdade, este medo, nos faz também impedir que os livros, as roupas e as pessoas tenham um fim muitas vezes bem mais nobre do que permanecerem presos a nós por causa de egoísmo, por causa de conforto.
Eu gostaria hoje de deixar para trás tudo o que me aprisiona, tudo o que me impede de seguir e ser mais feliz. Eu quero deixar que estas coisas sigam em frente. Mas é difícil. É sofrimento deixar de fazer coisas que me trazem segurança, mas mesmo assim, me fazem infeliz. Me pergunto, porque o ser humano tem de viver em tão estranhos paradoxos. Me pergunto porque há tanta confusão na mente do homem e da mulher. Porque é tão difícil crescer, porque o karma, a cruz, o destino, o fardo, chame como quiser, tem de ser tão pesado? Não seria muita mais fácil tentar ser feliz dando vazão à loucura que nos invade e faz querer sumir, colocar mochila nas costas, seguir e parar sempre que se dá vontade? O budismo diz que nos apegamos ao sofrimento desnecessariamente. O Cristianismo diz que Jesus liberta, o espiritismo prega o aprendizado a cada nova vida, e diz que quanto antes deixarmos de sofrer, antes nos tornaremos seres de luz, cada crença prega uma forma diferente de se libertar da dor. E mesmo assim, a amarramos nas costas e a arrastamos conosco, pesada e exaustiva companhia, por segurança, por medo, por receio. O homem, em seus primórdios como raça, quando deixava de encontrar o sustento (a felicidade, de acordo com seus instintos primitivos...) mudava de lugar, desapegava-se e tentava de novo, e de novo, e de novo... Estamos desonrando nossos antepassados, tornando-nos gordos espécimes, qual gatos castrados, confortáveis em uma vida cujo único sentido é... é qual? Você sabe qual é o sentido de tanto trabalhar, contribuir com a sociedade e morrer deixando para bancos, empresas e para o governo o que lutamos duramente para conquistar? Por favor, se souber, me diga, e me salve...
Eu digo por mim, ando em reavaliação, pesando e medindo tudo, vendo o que realmente vale a pena e juro, me entristeci com o que descobri. Um bom emprego, carro, casa, rotina segura... Há uns dez anos atrás, sonhava que hoje estaria escalando montanhas, praticando rappel, trabalhando durante a semana e nos finais dela, vivendo. Ao contrário, trabalho, trabalho e trabalho. O garoto está com pena do adulto. O vejo balançando a cabeça e rindo do prematuro velho responsável que teve de cortar o cabelo e usar gravata, coisa que simplesmente odeia. Gravata, aliás, era motivo de riso descontrolado na infância. Hoje no espelho, tal como corda de forca, não me parece tão engraçada.
Mas estou juntando coragem, juro que ainda mando fotos do monte Everest pra vocês. Deixar de acreditar é permitir que a alma decomponha dentro de um corpo sadio. Algum sábio disse isso, não lembro qual. Pode ser que tenha sido eu, ou Gandhi.
Em um ato de grande crueldade convido você que dignou-se a ler estas linhas a questionar sua vida, descobrir honestamente se você se tornou o que sonhava, ou se permitiu-se ser fustigado nas costas pelo sistema (frasesinha punk besta... Mas não resisti). Se não estiver satisfeito, excursões para o Everest, no meu email...

Diego Schirmer

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os Sedentos - Um Manifesto

O ser humano sofre por tão somente ter dons acima do que, creio eu, pode suportar. E um destes dons, é o pensamento racional. E existe uma parcela da raça humana, uma parcela abençoada com uma maldição, ou amaldiçoada com uma benção, à sua escolha, que sofre ainda mais, embora sofra entre gigantescos pequenos prazeres. Claro, essas são a minha opinião e a minha teoria, ninguém precisa concordar. Mas essa parcela, eu em minha gigantesca falta de paciência em pensar em nomes bonitos, chamo de “os sedentos”. E me incluo, sem dúvida alguma, neste nefasto time que vive entre dores e alegrias.
Os sedentos são aqueles que estão sempre descontentes com o que tem, por sempre quererem mais. São aqueles que você encontra muitas vezes solitários, entre os livros das bibliotecas e sebos, entre as lojas de discos, olhando com fome de tarado por coisas novas para conhecer. São aqueles que se entregam de corpo e alma às suas paixões e depois sofrem da mesma maneira pelos relacionamentos que acabam. São aqueles exagerados que pensam em se matar quando não tem a atenção que acham que merecem, e que quando a recebem, desisteressam-se pela falta de desafio. Eternos descontentes. Eternos curiosos. Ninfomaníacos. À vezes poços de cultura, às vezes poços de futilidades, mas sempre poços. E poços geralmente profundos e tristes. Daqueles abandonados nos antigos sítios tomados de mato e animais selvagens. Os sedentos precisam de paixões tórridas, daquelas que durem anos, ou pelo menos cinco minutos, mas tem que existir paixão, isto é regra. Os sedentos têm de estar sempre em altas temperaturas emocionais. Sem paixão nada segue. Sem tesão, muito pouco funciona. Rotina é a maior arma para você se livrar de um sedento, anote aí, caso precise um dia se livrar de um. Quem sabe, depois de chegar à exaustão causada por um sedento, queira se livrar dele. Mas uma coisa é certa, nunca mais esquecerá. Haverão traumas, prazeres, dores e alegrias inesquecíveis e você vai querer mais. Ou seja, o vírus é transmissível. Os sedentos precisam de música, de livros, de amigos pacientes e de companheiros saudáveis, que serão devolvidos ao mundo de duas maneiras: pirados ou inválidos. Torça para que esteja no primeiro grupo, pois poderá tornar-se de grande valia a outro sedento no futuro, e saiba, você ansiará por isso. Os sedentos precisam de muito carinho, de sexo em excesso, e às vezes de um pouco de violência, alguns gostam mesmo disso. Precisam também de doses regulares de álcool. E de viagens, muitas viagens... Precisam de conversas intermináveis e de silêncios profundos. Precisam estar em movimento sempre e nunca, nunca mesmo, ter a mente vazia, caso contrário, entram em um estado contemplativo-vegetativo, bastante conhecido como tristeza. Precisam sempre saber, sempre ler, sempre ouvir, sempre serem lembrados. Nunca deixe um deles sozinho muito tempo. Poderá não encontrá-lo quando voltar. Ou encontrá-lo na cama com alguém desconhecido. Precisam nunca parar de pensar. Sempre os mantenha ocupados. Sempre.
Obviamente ser um deles tem seus lucros, encontrar um disco de vinil raro e empoeirado, um vhs da infância ou um livro velho e embolorado pode ocasionar uma reação psicológica semelhante à um orgasmo. Aliás, orgasmos são tão necessários quanto o ar para um sedento, anote isto também. Você também os terá em grande quantidade, posso garantir. Cada novo conhecimento adquirido é um novo motivo de felicidade. Cada nova conquista um motivo de euforia lasciva. Cada boa música ouvida um passo em direção ao nirvana. Não a banda, o estado de espírito. Cada nova amizade uma oportunidade de encharcar-se de novas experiências, vinho e carinho. A vida é algo que querem viver ao extremo, cada minuto, e isto quem sabe seja a causa desta sede atroz que rói as pessoas desta raça por dentro. A causa desta sede que move e faz do sedento um ser vivo de verdade. Nós, os sedentos temos lutado contra a vida de plástico que a atualidade oferece. Pessoas que mais parecem bonecas infláveis vivendo vidas cronometradas e reguladas por uma rotina excruciante são o nosso alvo de conversão. Queremos espalhar nossa sede e nossa loucura. Queremos que as pessoas tenham sede, que façam mais amor, ou pelo menos mais sexo. Que escutem música e leiam, queremos que sofram cada vez que lhes falte aventura. Podemos ser seres sofredores, mas nosso sofrimento nos faz sentir o vento que bate na cara e o calor do sol depois da noite tremendamente escura e fria. Podemos ser eternos satisfeitos, mas nossa insatisfação nos faz lutar por mais do que temos e quase sempre, alcançamos isso. Sofremos e gozamos por viver entre o paraíso e o inferno.
Este é o nosso manifesto.

Diego Schirmer

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Segunda-feira: cansaço, nostalgia e uma promessa

Estou cansado. Não é a melhor frase para se iniciar um texto. Passa uma leve idéia derrotista. Não estou derrotado, estou cansado, pura e simplesmente. E como bônus ao meu cansaço mental, hoje é segunda feira.
Quando criança, eu, pleno de minhas convicções infantis de me tornar um roqueiro milionário, ou um arqueólogo famoso (nadando sozinho contra a correnteza de meninos que queriam ser pagodeiros ou boleiros ricos) nunca soube o que era estar cansado. Sobravam-me energias e estava sempre pronto para dominar o mundo, logo depois que conseguisse “virar” a fita do Super Mário. Nunca imaginei que chegaria a segunda feira em que desejaria ardentemente fingir-me de doente e dormir o dia inteiro, para recuperar-me de simplesmente ter tentado aproveitar os dois míseros dias que tenho de descanso, depois dos cinco dias que passaram estressantemente rápido e nem notei, já que sempre que me fingia de doente, para faltar a escola, dormir era sacrilégio imperdoável. Não tenho notado, aliás, o correr insano do tempo e hoje, um pouco tarde, tenho de dobrar-me diante da materna sabedoria de minha avó, que dizia que depois dos 15 anos, os 30 chegariam a cavalo. Invejo-a, já que seus trinta chegaram no charmoso trotar vagaroso de um eqüino. Os meus tem se aproximado em um coletivo lotado, conduzido por algum motorista psicopata e veloz, que muito provavelmente passará na maior poça ao meu lado, para ter o prazer de me encharcar. E não encostará no ponto, como a maioria dos ônibus que perdi até então.
O tempo passa, o tempo voa, e desta vez a musiqueta traz algo um pouco mais deprimente que a eminência de um domingo que esvaece, como acontecia quando o perdia diante de algum programa manjado na tevê.
Hoje de manhã passei a mão no rosto, e dei-me conta que meus dedos perdiam-se entre a barba que cresce rápido demais para o pouco tempo que me sobra, nos poucos momentos em que fico no lar que tanto luto para construir. Hoje de manhã, antes de levantar, notei que havia alguém aninhando-se entre meus braços na cama e senti seu cabelo cheiroso no meu peito sem camisa, e descobri que sem notar, passaram se anos longos e ainda assim rápidos, entre o momento em que meus hormônios adolescentes imploravam uma companheira e o momento em que agora, as vezes só me lembro dela quando chego em casa, cansado e irritado por passar o dia trabalhando com algo que gosto... Estranha e paradoxal, esta situação... Hoje de manhã, notei o café quente e forte, que me chama de volta ao mundo, e não consegui recordar quando foi que ele substitui a vitamina achocolatada que tomava antes de sair correndo e pulando para a escola. Ultimamente, aliás, só corro por estar atrasado e pulo de raiva, diante de um computador desalmado que teima em conspirar contra mim. Cresci, me tornei um adulto responsável e, em comparação com a grande maioria de meus conterrâneos, razoavelmente bem sucedido, com obrigações diante da sociedade e exemplos a dar, com compromissos e socializações frias e profissionais, ganhando meu salário, adquirindo e consumindo, correndo o tempo todo e vendo a idade chegar, acompanhada de rugas que considero precoces, a cada novo mês, a cada nova prestação, a cada novo eletro ou móvel. E isso tudo, perto da vida agradável, desregrada e sonhadora de quando era uma criança, muitas vezes, cansa.
Mas passa, com certeza, e prometo, mesmo não crendo mais nas minhas promessas, que nas férias deste ano, só levantarei da cadeira na beira do lago, para buscar mais cerveja e comida. Prometo que só olharei para o computador para ter certeza de que estará desligado, e que nas segundas feiras das minhas férias levantarei, como vingança cruel contra a segunda feira em que me encontro, só após as 11:00. Prometo que virarei a fita do Mário, mesmo que isso desperte o riso nos meus sobrinhos da geração Playstation 3, e assistirei todos os desenhos animados que passarem na tevê. E não tirarei a barba nem pentearei o cabelo um dia sequer. Prometo que retornarei nem que seja durante 30 dias ao que o homem é em sua essência: Uma criança. Que infelizmente, durante a idade adulta, está permanentemente de castigo.

Diego Schirmer

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Morte do Bêbado

Sutil como um soco na boca do estômago. Ou como um chute nos testículos, se você preferir. O certo é que a notícia, vinda da boca de um amigo, caiu nos meus ouvidos com o atordoante efeito similar a qualquer um dos dois exemplos. “Mataram o ‘Fulano’ (não citarei o nome, por respeito à quem o conhece ou é da família), mataram ele lá na frente da lancheria, e eu vi tudo”. Os olhos arregalados e cheios de salgadas lágrimas, como os de uma criança, confirmavam a afirmação. “-Tentei impedir, gritei para os caras pararem, mas vieram para cima de mim com uma faca, corri e me escondi dentro do bar, só pude assistir pelo vidro, deixarem o cara agonizando até morrer, depois de racharem a cabeça dele com tijoladas e pauladas.” “-E tu chamou a PM?”, “-Chamei logo que vi que ia dar briga, mas chegaram só a tempo de levar o cara pro IML”.
O Fulano em questão, dependente do álcool e figura folclórica da cidadezinha do interior, morreu por traumatismo craniano, deixou bastante sangue na mesa de sinuca do bar para ser lavado, e um trauma no meu amigo, que nunca tinha visto nem gado ser abatido para alimento. Deixou também, na boca de algumas outras pessoas, comentários típicos: “Era tão bonzinho, só tinha o defeito de beber...”. E morreu por causa de R$ 2,50, ganhos na mesa de jogos, de dois rapazes de menos de 19 anos, que hoje mesmo, pararam no citado bar pra dar uns goles... A polícia, quando questionada sobre o destino dos dois, dignou-se a dar de ombros, e dizer que sem “fragrante” não havia detimento. “Foi bêbado que morreu, meu ‘fio’, não se perdeu nada”. A família, mãe e filhos pequenos, que era sustentada pelo falecido, provavelmente não pensa assim.
Os policiais ainda saíram comendo um gorduroso pastel, adquirido no carteiraço, comentando estarrecidos a “barbaridade que Bruno, aquele bandido, fez”, entraram no carro, deixaram o IML fazendo seu serviço de remoção do “presunto”, como eles se dignaram a chamar o corpo estendido, com o respeito e a educação típicos da raça fardada, e seguiram, muito provavelmente discutindo sobre o que fariam com Bruno, se colocassem as mãos nele. Pelo que se conhece dos dois jovens responsáveis por quebrar por uns segundos a rotina dos policiais, estavam dormindo tranqüilamente em casa, ainda proprietários dos dois e cinqüenta que por direito e justiça firmados em boteco, não mais lhes pertencia. Meu amigo, enquanto prestava depoimento, quase chorou, abalado com as lembranças de um assassinato presenciado impotentemente por ele, e ainda teve de ouvir, entre dentes, ser chamado de “fresco” pelo quase choro. A viúva, que também estava na delegacia no momento, era questionada por um de seus meninos a respeito do pai, e chorava muito, de acordo com o que me foi contado, e era repreendida pelo “fiasco” que tumultuava a paz de tão nobres e solícitos profissionais. Nobres e solícitos profissionais que nunca exitaram um único momento em descer a mão nos guris da minha turma na minha adolescência, mas que demoram quase 40 minutos para fazer o percurso de 3 km que existem entre seu posto e o bar em questão, quando chamados para resolver uma briga ou para evitar um assalto.
Nada tenho contra os policiais honestos e sérios, que merecem respeito e trabalham enfrentando bandidos todo o dia. Admiro o policial que coloca a cara na frente de um revolver, que defende a sociedade e faz seu papel de agente contra o crime. Não conheço nem um sequer assim, mas sei que devem existir, e à vocês minha admiração. Infelizmente o outro tipo abunda e destrói, pisa e escarra na imagem séria que deveria existir e é manchada diariamente pelos mesmos. Este texto, caro amigo que me perguntou “porque Diego, tu sempre faz essa cara de descrédito ao ver um PM?”, é a resposta à sua pergunta. Este texto é meu desabafo. O “presunto”, o bêbado inútil que morreu, e que não fará falta alguma havia sido meu amigo, anos atrás. E ele fará falta para muita gente que não concordava com seus atos, mas o respeitava pelo que ele havia sido em vida. Era um bêbado. Mas era um pai, um marido e um amigo para muitos. Eu tinha histórias engraçadas para recordar dele. Eu tinha pedido grana emprestada para ele, há anos atrás, quando não era o que sou hoje. Eu tinha emprestado grana pra ele quando me pediu. Nós havíamos bebido juntos, jogado sinuca. Seguimos caminhos diferentes, eu venci, ele caiu em vício, e acabaram por terminar com suas chances de recomeçar, com uma morte indigna, por causa de malditos dois reais e cinqüenta centavos fodidos. E os assassinos ainda caminham livremente, zombando das pessoas boas que engolem suas revoltas de forma amarga. Não houve “fragrante”. Os restos da massa encefálica do cara na mesa de sinuca, os tijolos esmigalhados e grossos pedaços de pau ensangüentados nada falam, simplesmente eram sujeira que meu amigo e seu pai tiveram de limpar. Morreu só um bêbado, e na verdade os jovens fizeram o favor de matar mais um inútil que trabalhava e sustentava família, e assim, limparam um pouco mais a sociedade. Você que lê pode ter um pai, uma mãe, irmãos alcoólatras, que pela ótica destes dois policiais, merecem morrer. São só mais alguns “bêbados.”

P.S.: Antes que me critiquem pelo linguajar politicamente incorreto, tenho parentes alcólicos, sofro por eles como quem sabe você sofra pelos seus. Minha revolta me faz escrever na maioria das vezes, por isso, minha linguagem muitas vezes chula. Se o presidente e os maiores escritores do país podem, também me reservo este direito.

Diego Schirmer

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Vivendo No Espaço!

Estamos chegando a um ponto critico.
Políticos que não respeitam seus eleitores,
Eleitores que não sabem votar
O mundo caminha de mal para pior
O buraco negro está próximo
A camada de ozônio está sumindo
Morreremos queimados pelo sol
A Água está acabando, os rios estão secando
Muitos estão desmatando
As florestas estão sumindo do mapa
E tudo isso por causa do dinheiro
Será que realmente compensa?
Será que se pensássemos um pouco mais antes de agir,
O mundo seria melhor?
É ainda temos tempo para mudar
Mas seria uma luta da natureza contra o tempo onde poucos se preocupam
De um lado os ricos dominam a terra
Do outro os pobres padecem de fome ou pela injustiça.
Mas isso ao é problema meu
É problema nosso
Vamos fazer cada um a sua parte
Vamos votar com consciência
Não colocar o nosso país nas mãos de destruidores
De gente que só quer saber do salário
Mas trabalhar que é bom nada!
Eles vivem em um mundo onde poucos se salvam da corrupção
Mas nós vivemos num mundo onde precisamos da justiça!
Não vivemos no espaço!
Estamos chegando a um ponto critico.
Políticos que não respeitam seus eleitores,
Eleitores que não sabem votar
O mundo caminha de mal para pior
O buraco negro está próximo
A camada de ozônio está sumindo
Morreremos queimados pelo sol
A Água está acabando, os rios estão secando
Muitos estão desmatando
As florestas estão sumindo do mapa
E tudo isso por causa do dinheiro
Será que realmente compensa?
Será que se pensássemos um pouco mais antes de agir,
O mundo seria melhor?
É ainda temos tempo para mudar
Mas seria uma luta da natureza contra o tempo onde poucos se preocupam
De um lado os ricos dominam a terra
Do outro os pobres padecem de fome ou pela injustiça.
Mas isso ao é problema meu
É problema nosso
Vamos fazer cada um a sua parte
Vamos votar com consciência
Não colocar o nosso país nas mãos de destruidores
De gente que só quer saber do salário
Mas trabalhar que é bom nada!
Eles vivem em um mundo onde poucos se salvam da corrupção
Mas nós vivemos num mundo onde precisamos da justiça!
Não vivemos no espaço!

Criado, editado e revisado Por: Tiago Gomes (Poeta Isano)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Encontro sobrenatural (sim, é um relato sincero, e não, eu não estava bêbado...)

Bom... estávamos um amigo e eu, (na verdade um amigo que lê muito raramente este blog, então não merece ter seu nome aqui citado, hehehehe) conversando sobre muitas coisas genéricas e aleatórias, até que o assunto caiu numa área que muito me agrada e interessa: o insólito, o sobrenatural...
Acabei relatando a ele um ocorrido comigo e com uma prima que tenho como irmã, infelizmente já falecida, durante a nossa adolescência. Como modo de espantar a saudade que sinto dela e dessa época, escrevo meu "Relato Sobrenatural" a seguir, e deixo para que vcs tirem suas próprias conclusões...

Eu sei que foge bastante do padrão das postagens daqui, mas se as três pessoas que lêem o blog não gostarem, é só ignorarem este post. De qualquer forma além de ter sido um agradável exercício de escrita e memória, foi uma maneira interessante de relembrar uma fase boa da minha vida, com uma estranha experiência que compartilhei com minha maninha que hoje descansa...

Durante minha adolescência, por conta de alguns fatos particulares e enormes diferenças de opiniões, resolvi me mudar para a casa de meu tio, irmão de meu pai, onde fui recebido por ele e sua família (esposa e duas filhas, que tenho como irmãs muito queridas) com todo o carinho possível, o qual eu já não era mais acostumado desde a perda de meu pai aos 8 anos.
Pois bem, eu e minha prima, quase de minha idade, quando não estávamos na escola ou com alguns amigos, andávamos sempre juntos, realmente tínhamos um pelo outro o carinho de dois irmãos muito chegados, já que desde muito novinhos éramos super apegados, ainda mais depois que fui “adotado” por este tio.
Como minha tia dedicava-se muito a nós e a seus afazeres domésticos (éramos quatro pessoas, isso gerava muitas roupas para lavar e reforçados almoços para preparar) quase não lhe sobrava tempo para cuidar de si mesma durante o dia, por conta disso, sempre que precisava fazer as unhas ou cortar seu cabelo, acabava tendo de marcar estes compromissos para depois que chegávamos em casa, normalmente depois do salão ter fechado, pois como era amiga de longa data da dona do estabelecimento, esta a atendia sem problemas e com maior atenção, por ter já dispensado as habituais clientes. Muitas vezes, como é comum às donas de casa, o papo estendia-se até mais tarde, e nestas ocasiões, eu e minha prima fazíamos questão de buscá-la, pois isso nos permitia falar de nossas novidades, nossos namoros e planos futuros mais à vontade, além de que meu tio vivia atolado em provas para corrigir e planejamento de aulas para preparar, pois era professor em uma escola do estado e orientador e professor de um colégio particular, e quase nunca podia ir ao salão para buscar sua esposa. Na cidade onde morávamos (Taquara, há uns 70 km de Porto Alegre, capital do estado) havia ainda muitas “vilas” que por serem mais afastadas do centro, recebiam iluminação precária e tinham suas ruas em chão batido. No nosso caso, para chegarmos até o salão, ou cortávamos caminho por um enorme campo de gado, ou seguíamos pela mais antiga rua da cidade (a “estrada velha...”), mal iluminada, toda de decrépito calçamento centenário e chão batido. Por ser a rua mais antiga da cidade, ainda mantém seus casarões da época colonial e campos de pasto, e estava (está até hoje...) um tanto abandonada. Também esta estrada mantém as mais escabrosas histórias de acidentes, assassinatos e crimes, na memória dos mais velhos habitantes, desde o início da história da cidade, que hoje conta com mais de 150 anos. Mas vamos a história:
Certo dia, em torno das 22:00, sexta feira, quando nos dirigíamos ao objetivo citado, resolvemos que tomaríamos o caminho da estrada, pois como havia chovido recentemente, o campo por onde atalhávamos deveria estar todo enlameado. Da estrada, conseguíamos avistar quase todo o nosso habitual atalho, caminhando paralelamente a ele, pois era em um campo aberto, com poucas árvores e um pequeno matagal, e embora não houvesse nenhum poste de luz funcionando, a lua iluminava o caminho muito bem... E em dado momento do caminho, notamos uma pessoa vindo ao longe, em direção contrária à nossa, só que pelo atalho que havíamos evitado. Imaginamos que era nossa mãe, e começamos a acenar, para que ela nos visse, e viesse ao nosso encontro. Quando aquela pessoa aparentemente nos viu, virou-se imediatamente para nós, porém ao invés de contornar o mato para chegar a estrada, começou a vir por entre os arbustos e árvores, o que achamos estranho, por ser bem mais trabalhoso. O pavor começou quando notamos que não era ela, e sim algo que quanto mais se aproximava, aparentava ficar cada vez mais alto, o que não era o caso de nossa mãe, que era de estatura baixa.
Quando aquilo já estava mais próximo, e aparentando ter uns quase três metros de altura, notamos que não era alguém normal, por ser muito alto, porém extremamente vagaroso e desengonçado. Ainda víamos somente seu perfil, recortado contra a luz da lua, mas posso garantir que era mais alto que as árvores ao redor. Minha prima, já apavorada, apertou meu braço quase a deixá-lo roxo, e tentava arrancar-me do lugar em que eu estava com toda a sua força, mas eu não conseguia parar de olhar para aquilo, que, agora já bem mais perto, aparentava ter aproximadamente quatro metros de altura, tranqüilamente. Quando consegui parar de olhar e notar o medo que minha prima estava sentindo, notei que eu mesmo também estava tremendo, e começamos a correr, no escuro, pisando em poças e lama da estrada, na direção da próxima rua, onde esperávamos que houvesse alguma lâmpada e pessoas. Enquanto corríamos, olhamos para o lado, em direção à cerca de arame farpado que separava o campo da rua onde estávamos, e vimos como que se a sombra daquilo, estivesse vindo em nossa direção, como se fosse uma cobra, arrastando-se no chão.
Encontramos nossa mãe, e voltamos pelo mesmo caminho, sem nem olhar para o lado, temendo ver novamente aquele ser estranho, e quando chegamos em casa, longe dos ouvidos céticos de meu tio, contamos o acontecido para ela e para minha avó, que nos disse que meu pai e meu tio, quando jovens, detestavam passar pela mesma rua durante a noite, pois lhes parecia que as sombras sempre lhes perseguiam. Até pouco antes de falecer, minha amada prima confirmava de olhos arregalados esta história, e embora anos depois ríssemos e tentássemos encontrar uma explicação lógica para aquilo, foi muito estranho e, no momento em que aconteceu, apavorante.
Hoje sou um cara bastante cético, casado e consciente do mundo físico que nos cerca, porém, esta experiência nunca foi explicada logicamente, me deixando com certas dúvidas até hoje.

Diego Schirmer

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Flute Metal

Encontrei esta banda no youtube, que junta duas coisas que curto demais: metal e instrumentos clássicos, neste caso, flauta. O problema é que não descubro de jeito nenhum o nome da banda!!!!

De qualquer forma, um baita som!


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desabafo de um peito gelado - Outra autocrítica...

    Sempre amei o inverno. Quando criança adorava ver a geada branca sobre a grama, que praticamente partia-se congelada ao pisarmos nela. Achava o máximo os “caras importantes”, com seus sobretudos e maletas, gostava do inverno pelo fato de as pessoas vestirem-se bem, achava bonito as mulheres com casacos enormes, gostava acima de tudo do chocolate quente, do pinhão, de certas comidas gostosas que só o inverno permitia... Sentia-me ótimo aos domingos de manhã, a preguiça morna e aconchegante que minhas cobertas me faziam sentir, do pão caseiro quente, com a manteiga a derreter, de passar a tarde dormitando no sofá. Gostava até mesmo de ir para a escola nesses dias, mesmo com chuva, falar bobagens com os amigos, ler durante a aula e embranquecer os cabelos dos professores. Havia dias em que o termômetro marcava graus negativos, como é comum aqui no sul, e lá ia eu, cheio de roupas quentes, assoprando vapor e pulando sobre as poças de água gelada.
    Foi num desses dias, de frio extremo, vento cortante e garoa gelada, a caminho da escola, que vi muito deste amor morrer. Foi num destes dias que descobri uma das maiores crueldades da vida e perdi, inconscientemente, uma parte grande de minha boba inocência infantil. Foi num destes dias que um dos espinhos que carrego até hoje se cravou em mim e, contra a minha vontade, os invernos nunca mais foram os mesmos. A partir de então, uma culpa que tento disfarçar se apossa de mim sempre que sinto prazer no frio.
    Ele estava curvado, tentando de forma patética e inútil proteger-se do vento que o chicoteava forte, com água suja e gelada a escorrer de seus cabelos desgrenhados, pisando dolorosamente no chão, com apenas um dos pés calçados. Ele estava visivelmente embriagado, falando sozinho, amaldiçoando o dia que tanto me agradava, esquelético e pálido por trás da sujeira que o cobria. Era velho, ou pelo menos o tempo, que mais tarde descobri ser um cobrador ríspido e impaciente, assim o fazia parecer, e carregava uma sacola de pano quase podre e encharcada, que pingava, assim como seus cabelos, um líquido negro e grosso. Terminou de fuçar desesperançado no lixo e começou a caminhar na minha direção, trazendo consigo um cheiro forte, que nem a água que o lavava conseguiu dissipar, trôpego, e me olhando sem muita firmeza. Veio e passou, como um espírito morto e vago, ao meu lado, enquanto minha diminuta mente de criança tentava desvendar, apavorada, a visão que acabara de ter. Uma palavra vaga, uma leve lembrança de que já ouvira falar em seres assim, passou por minha cabeça e, um pouco em dúvida, pude nomear a coisa: “Mendigo...”. Formou-se então, neste momento, uma nova visão do inverno onde, enquanto eu ansiava pelo frio que me traria tardes de desenhos animados e doces, traria a algumas pessoas, e infelizmente muitíssimas outras pessoas, a dor e o sofrimento que só quem mora na rua sente com a chegada do tempo gelado.
    Hoje, anos mais tarde, ao descer do ônibus e encaminhar-me ao meu emprego, dentro de uma sala aquecida, diante de um computador e de um copo de café fervente, satisfeito com o verão que tardiamente acabou, novamente o espinho rasgou mais um pouco dentro de mim, e incomodou-me durante o restante do dia. No pequeno trajeto entre a rodoviária e o prédio onde trabalho, novamente deparei-me com um destes homens que teimosamente sobrevivem aos ataques da vida. Ao contrário do que aconteceu naquele dia, não foi o aspecto do homem sujo, tremendo por conta dos oito graus e do vento frio que praticamente o atravessava, que me assustou. O que me assustou realmente foi, horas mais tarde, quando me apercebi do fato, a frieza, ainda maior que a da manhã, com que desviei do homem e despreocupado continuei em meu caminho, absorto nos planos do feriado que se aproxima. Descobri que a criança confusa e triste, que o adolescente idealista e socialista, que o jovem adulto engajado em planos sociais congelou, quem sabe devido aos muitos invernos que passou discutindo formas de mudar a sociedade, dentro de uma sala aconchegante, entre goles de vinho e sonhos revolucionários vazios e sem sentido. Esse frio interior ainda é pior. Este é o frio que impomos às crianças e velhos que passam a noite cobertos de jornais enquanto dentro das casas aquecidas olhamos novelas, ouvimos músicas e geramos outros frios descendentes que um dia, pelo menos uma vez na vida, terão de encarar, constrangidos e confusos, um destes frutos da sociedade em que vivemos e construímos. Um destes frutos sujos, descabelados, famintos e feridos que tanto contrastam com nossos filhos bem alinhados e alimentados.
O que faremos pra mudar? Não sei, mas sei o que EU farei. Há os que oram nas igrejas, há os que criticam o governo, há os que fecham os olhos e há uma raça a qual eu quero pertencer, a raça que se doa. Que doa. Que ajuda e não finge que o problema é invisível. Há o que passa pelo mendigo revirando sua própria lixeira e ainda preocupa-se com a sujeira que o pobre irá fazer. Não quero ser este, embora esteja como ele tornando-me gelado. Temos roupas que não mais servem que estão guardadas. Temos alimento que nos sobra e jogamos aos nossos cães que comem melhor que estes que cito. Temos pernas e braços. Temos direito de voto e escolha. Temos saúde e temos tempo, pelo menos os 90 minutos do futebol que enriquece quem pouquíssimo ajuda o país que o gerou. Só não temos o calor humano, vital, que nos escapa a cada vez que nos alienamos com o pão e circo que nos é oferecido pela mídia e pelos governantes.
    Doe este inverno. Aqueça os seus sentimentos. Quando eles finalmente congelarem você estará tão morto quanto as folhas que caíram, sem cor, nos últimos dias, e será ainda mais pobre que o pobre sobrevivente que lhe pede o calor e o pão.

Diego Schirmer

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cometi alguns versos depois de uma discussão com um conhecido, sobre religião, vida, certezas e dúvidas.
Obviamente, com nossa discussão, chegamos como sempre em "nowhere", em lugar nenhum. Mas rendeu uma tentativa, como sempre frustrada, de poesia. Ei-la:

"Maldito dom de questionar
Que em mim foi implantado
Entorno sangue a procurar
Respostas que acalmem meu estado,
Que cesse da pergunta o perturbar,
Me façam ainda menos precisado
Deste eterno duvidar
Que tanto leva ao forcado
Quanto ao milagre de encontrar
Verdade que nos leve a um caminho
Bem mais certo de trilhar
Mas enquanto foge o que é correto
Destas mãos cansadas de procurar
Seguem a angustia, duvida e erro
Na carona de meu andar
Me guiam tristeza e choro
Enquanto a mim não se revelar
Qual da vida é o segredo
Que ninguém vai me contar
Ainda seria melhor consolo
Não ter capacidade de pensar
A viver com o doloroso
Peso que é acreditar
Que algo na vida está errado
Mas o que é, não consigo revelar."

Diego Schirmer

terça-feira, 18 de maio de 2010

Desabafo de um velho caquético, ignorante e preconceituoso...

“-Você é um ignorante, preconceituoso e chato!” – Foi a sábia e pesada sentença, emitida por um ser que, atrás da franjinha e da pesada maquiagem, identifiquei como sendo um adolescente, teoricamente do sexo masculino. Emitiu a frase – digo emitiu, porque as palavras foram praticamente sussurradas, entre os dentes, com ódio e revolta típicos dessa idade, o que me fez pensar em pequenos canibais juvenis, dançando ao som de “Fresno” ou algo que o valha, em torno do meu cadáver singelamente esquartejado com as próprias pequenas lâminas de apontadores, com as quais os mesmos ameaçam suicidar-se quando a mesada acaba antes da hora – emitiu a frase com toda a certeza e seriedade, do alto de sua imensa carga de experiência, adquirida ao longo de seus 12 ou 13 anos de vida, vividos intensamente, entre porres de achocolatado e perversos selinhos nos amigos, com o dinheiro e permissão de seus pais, obviamente.
Senti-me um velho. Senti-me um velho chato, ultrapassado e ignorante, que insiste em usar o mesmo preto da minha adolescência, me senti um velho preconceituoso e quadrado, por ainda insistir em escutar os mesmos blues e metais da minha recente “juventude”, me senti um obsoleto senhor da geração passada, há pouco mais de 10 anos atrás, quando ser um adolescente heterossexual ainda era normal, e nós, meninos, beijávamos meninas. Mas principalmente, me senti um velho deslocado e, enfim, caiu a minha ficha. Caiu a minha ficha de que a minha geração passou, minhas bandas preferidas e minhas camisetas negras caíram, que hoje eu sou o adulto detestado, responsável e vendido ao sistema capitalista. Senti-me um velho daqueles bem irritantes, saudoso de seus tempos áureos e criticando a geração mais nova.
E isso me agradou! Agradou-me como só agradaria a um velho vingativo, que enche o peito de ar, quase desmaia pelo esforço e diz: “Morram de inveja seus adolescentezinhos ridículos! Morram de inveja porque no meu tempo a gente tomava vinho de verdade, bagunçava de verdade, ouvia música de verdade e nunca precisou fingir uma ressaca ou pagar de depressivo para chamar atenção!” Hoje eu descobri que sou um chato, ignorante e preconceituoso para a geração atual, assim como os adultos os eram para a minha, e resolvi admitir isso, resolvi diante do mundo dizer que sou um cara atrasado e que vou continuar assim, pois ainda acho que blues e heavy metal são melhores que funk e emocore, que cerveja e vinho são melhores que bolachinha recheada e leite e que “Laranja Mecânica” é muito superior à “Crepúsculos” em geral. Hoje compreendo perfeitamente a frase “No meu tempo é que era bom...”. Hoje sei que os velhos secretamente zombavam de mim lembrando de suas glórias passadas, assim como eu mesmo o faço.

À propósito, o que desencadeou a fúria do adolescente de franjinha, que me fez despertar para o fato de que sou um caquético adulto inconveniente e atrasado, foi a seguinte frase dita por mim:
“-Cara, essa música do (acrescente aqui o nome de qualquer bandinha genérica que cante estridente e fale de coisas superficiais e fúteis) é uma m#$da... No meu tempo é que era bom...”.

Não era: Backstreet Boys e o Tcham são a maior prova disso. Mas pelo menos tinha o R.E.M. e Legião... Só que eles eram oitentistas... É... meu pai é que estava certo, bom mesmo era no tempo dele!

Diego Schirmer

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Beijo



Aquilo foi um beijo?
Teria sido devorado
Antes que amãnhecese
As arvores balançam
Suas folhas velhas caem
Como minha língua
Dentro da sua boca
Quente como larvas
De um vulcão
Em erupção, me beija
Não diga nada
Apenas deixe o clima rolar
Sinta meus lábios
A sua linda boca tocar
Esqueça o mundo
Vem me devorar
Arranque meus cabelos
Deixe o clima rolar
Sabor igual não tem
Nem os doces mais doces
Contém a doçura
Que o teu beijo tem
Abrace-me
Passe suas mãos no meu corpo
Tire minha roupa
Jogue-me no chão
E me beija
Apenas me beija
Sentir esse movimento
Briga de línguas boca adentro
Fazendo enlouquecer
Insano, mais insano quero ser
Beijar-te
É me apaixonar
Cada vez mais
Risco enlouquente
Beija-me Loucamente
Faça-me delirar
Encosto-te na parede
E te faço me beijar
Com toda intensidade
Temos intimidade
Por isso
Esqueça tudo vem
Feche seus olhos e me beija.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Não sei.

Não sei o que as palavras querem dizer, elas me afligem e me deprimem me forçam a dizer coisas sem sentido, coisas que me arrancam pensamentos. Bem que eu queria ser livre, poder escolher meu destino, e o destino das palavras que correm em minha mente, mas é um querer impossível, pois as palavras têm vida própria e seguem seu próprio destino que é me incomodar e eu apenas as transcrevo!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ainda mato o meu vizinho!

Imagine a situação... seis horas da matina (isso mesmo, 6 horas da MADRUGADA) de quinta feira, e o fiodapu do meu querido novo vizinho liga o seu pré-histórico aparelho de som (a julgar pela qualidade do som deve ser pré-histórico...), e põe para tocar o cara que considero um dos maiores príncipes "thrash" da nossa música: AMADO BATISTA...
Resumindo matemáticamente:
QUINTA FEIRA+6 HORAS DA MANHÃ+VIZINHO CAM INHONEIRO BÊBADO PSEUDO ENCORNADO E (nos meus doces sonhos) FUTURO DEFUNTO+AMADO BATISTA NO ÚLTIMO VOLUME = DIEGO PRESTES A SE TORNAR UM ASSASSINO EM SÉRIE...

Ok... Só precisava mesmo desabafar...
Provavelmente não vou matá-lo e meu cinismo crônico ainda me fará parecer extremamente educado quando eu lhe der bom dia na próxima vez que eu o ver... MAS COM CERTEZA ESSE FIODAMÃE VAI CONHECER UM DOS MELHORES TRABALHOS JÁ LANÇADOS PELO TOURNIQUET, sábado pela manhã, provavelmente entre às 7 e 8 horas da manhã, depois de ficar até às 4 da madruga bebendo e ouvindo música de CORNO...

Aliás segue logo abaixo uma leve amostra do que ele vai ouvir neste final de semana INTEIRO...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Chuva

Chove muito lá fora, o tempo.
Está bom para fazer amor
Esta, bom para ser amado.
Lá fora é noite, mas aqui.
Tudo soa tão bem.

Entrei no meu carro e sai
Fui para rua, ver a cidade cheia.
As águas correndo
E eu cantando
Mas a chuva continua.

Essa chuva nos faz refletir
Sobre nossas vidas milagres compreender
Tudo que a gente precisa
É a cada dia buscar inspiração
E aprender a viver.

Saber querer, escolher.
Não para de chover
O sol não vai aparecer
Há apenas nuvens negras
No meu amanhecer.



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Essa poesia é muito importante pra mim, pois foi a primeira que fiz...
Pelo menos que eu me lembro.. ela tem uma história legal...
Certo dia estava eu escutando CAPITAL INICIAL... havia acabado de achar o cd original na rua ^^ E já gostava de CAPITAL INICIAL depois desse dia então era da minha rotina já todos os dias escutar, mais voltando um pouco, logo após eu ter achado o cd eu fui escutar gostei da musica e fiz uma poesia em homenagem, chovia mesmo de verdade aquele dia, e é essa ai, espero que gostem, não está muito boa pois foi a primeira que fiz, não tinha esperiência nessa area!!!
Beijos Do Poeta!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre o Layout...

Quem sabe mudamos o nome deste troço pra OVERDOSE COLORIDA????
Levando-se em conta este layout estilo Carnivalle Depréssifs não seria má idéia.

Estamos (ainda) configurando o layout deste blog, logo não precisaremos mais de óculos de sol e protetor solar fator máximo para acessa-lo, até lá recomendamos que não leiam-no por mais de 15 minutos, por conta do risco de queimaduras na retina...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Coisas que só o Diego (tah... e mais uma meia dúzia de esquisitos...) curte II

Mais uma da série abaixo... Uma banda gaúcha, que mistura rock psicodélico, tango e música de circo,  vestidos de palhaços!!!Conheçam a BANDINHA DI DÁ DÓ... A melhor banda de Clown Music do mundo, na minha humilde opinião... na verdade não conheço nenhuma outra banda de Clowns, mas isso não vem ao caso!
O que vem ao caso é que os caras são muito talentosos!!!!!! E inusitados...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Da série: "Coisas que só o Diego escuta..."

Uma música linda de uma cantora folk sensacional...
Para quem conhece, um bom vídeo para lembrar, para quem não conhece, uma ótima oportunidade de conhecer Joni Mitchell, que, para familiarizar os "leigos", teve uma de suas melhores músicas interpretada (ou estragada, dependendo da opinião...) por Renato Russo, no albúm Acústico MTV Legião...

Cuidado! Contém doses altíssimas de sentimentalismo, não recomendado para ouvidos desafinados...
(a música interpretada por Renato Russo, acima citada, é "The Last Time I Saw Richard"; Se não me engano, a faixa 10 do disco MTV Acústico)


Rodoviária Freakshow – Uma Autocrítica

Perder um ônibus, ao final de um dia quente e estressante, além de te proporcionar uma ótima oportunidade de usar todos os palavrões que são evitados em momentos menos “propícios”, também traz, mesmo sob a ótica do tédio irritado que acompanha toda espera desnecessária, momentos interessantes de auto-análise, diante da estranha e enorme diversidade de pessoas que apenas pouco mais de 50 metros quadrados podem conter (ô frasesinha mais nerd...), um belo freakshow, como diz um certo amigo, diante de tudo o que parecer estranho.
No momento em que escrevo, um PM com a forma física de quem mal anda do sofá até a geladeira em suas folgas, finge que protege a sociedade com o ar imponente de quem julga deter o poder, mesma sociedade esta que pisa sobre a mãe indígena, exaurida e rodeada por seus cinco filhos, que mesmo dentro da rodoviária lotada tem um assento só para ela: não é cota especial para índios sujos e maltrapilhos e nem tampouco educação, é somente o sentimento típico de nossos dias, “nojo-classe-média”, mais conhecido por nossa hipocrisia como “decoro”... aliás, sentimento bem explicitado na maneira como a pequena horda de patricinhas se posiciona e olha para o grupo anteriormente citado: distante e com preconceito a escorrer de seus olhos, junto com a base que esconde suas mal disfarçadas espinhas adolescentes. Ao meu lado, um muito educado rapaz crê que todos ao redor gostam de ouvir funk, principalmente se entoado com a voz fanhosa de um moderníssimo celular, que faz questão de expor satisfeito, e um senhor que provavelmente tem os seus 30 anos, mas aparenta o dobro, tenta compartilhar, fraternalmente, de seu enfisema pulmonar através da fumaça negra de um cigarro que segura nervosamente, com os colegas de espera. Pessoas sozinhas, acompanhadas, irritação latente, padronizada, cheiro de suor, álcool e cigarros se misturam com o cheiro de perfume (barato?... caro?) de alguém que provavelmente entornou um vidro inteiro de colônia sobre si.
E dentre muitos sentimentos que se pode ler nos rostos de tantas pessoas, que passam apressadas e sem olhar para o lado, dois, de fato, reinam aqui, e pelo que parece, reinam também no resto do pequeno mundo com o qual convivo: Cansaço e Solidão, assim, com letra maiúscula mesmo. Cansaço dos problemas, do chefe mal educado que acha que tem poderes absolutos, das contas que chegam e muitas vezes atrasam, do ônibus lotado, do caminho longo, do dia quente e quem sabe da noite futuramente mal dormida, cansaço da vida em si, que nós mesmos temos teimado em tornar mais pesada com o nosso ego inflado, nossa falta de educação e com a básica e bem decorada frase: “o problema não é meu!”. É meu sim! É meu porque o meu dia foi ruim, e por causa disso, quem sabe por uma vingança inconsciente e sádica, também piorei o dia já ruim do atendente na rodoviária, proferindo um monte de ofensas, não diretamente contra ele, mas contra a empresa que ele representa. É meu sim, porque reprovei as patricinhas que olhavam feio para os mendigos e trabalhadores maltrapilhos, mas não me sentei com eles, não ofereci palavra nenhum e nem comprei nada que me ofereceram, mesmo tendo o dinheiro, porque o “MEU” vinho do fim do dia é sagrado, a “MINHA” cerveja gelada na tarde quente não pode faltar, mas o alimento deles pode... Uma cesta de vime é inútil? Qual a utilidade de uns três grandes goles de álcool diários? E tem também a solidão. A solidão do casado que saí do emprego para a rotina do casamento sem sentimentos, a solidão que, longe do olhar romântico de alguns poetas (Tiago, nada pessoal, tá?), não é nada bela, é realmente dolorosa e feia, menos bela ainda no rosto desse senhor idoso que, bom ou mau durante a vida, de qualquer forma, parece encaminhar-se para a pior morte de todas, a morte só. A solidão do “um em um milhão”, solidão coletiva, bem acompanhada de mais uma centena de solitários. Solidão da menina de rosto lindo, certamente invejada pelas amigas por ter qualquer carinha que quiser aos seus pés, mas que, quem sabe, não passa de um objeto de uso descartável nas mãos de, e olha aí de novo, um egoísta, como qualquer um de nós tende a ser. Se a maquiagem e o rosto quase perfeito escondem os sentimento, os olhos nunca fogem do que o coração quer mostrar, e quase unanimemente, o que os olhos tem aparentado é isto, estes sentimentos ditadores e cruéis que regem o nosso dia-a-dia.
Pensando bem, o atraso do ônibus que agora estaciona diante de mim, se não me fez bem, ao menos me serviu como um belo soco no estômago. Critiquei com meu sarcasmo, e minha própria consciência me ridicularizou. Quem me deu direito de apontar pessoas vazias, egoístas e frias, se eu mesmo sou assim?
E pensando melhor ainda, não são dois sentimentos os reis do nosso dia. É um só. O supra citado EGOÍSMO, que pelo que se pode notar, leva a todos os outros. Amanhã eu deveria pedir desculpas ao atendente da rodoviária, e comprar um cesto de vime... Mas provavelmente o efeito bumerangue vai agir e o atendente será estúpido comigo antes. E não fui eu mesmo que começou isso? Bom, sobra o cesto de vime...

P.S. do dia seguinte: A mulher dos cestos não estava mais lá quando voltei... Mas um mendigo pediu dinheiro e eu não dei, provavelmente era pra comprar cigarros, e eu é quem não fico sem a minha ceva gelada para alimentar o vício dos outros...

Diego Schirmer

terça-feira, 23 de março de 2010

Primeiro post...

Bom... taí uma coisa que há tempos queria fazer mas sempre deixava "pra depois"... um blog...
Este aqui é mais um teste (à princípio), quero ver como me saio... Vou contar com ajuda de Tiago Poeta, parcerão do PDL...
Então comentem, escrachem, critiquem ou elogiem (?) à vontade... sem bem que por enquanto só podemos comentar os meus erros de português neste primeiro post e minha facilidade em escrever muito e falar quase nada ao mesmo tempo, já que poderíamos resumir estes dois parágrafos praticamentes desnescessários com apenas um oi... estou aí...


P.S.: Vai parecer extremamente antiquado, mas estive fugindo de criar um blog até agora porquê não pretendia ser só mais um despejando e desperdiçando palavras inúteis na Grande Teia, só que infelizmente não resisti a tentação e acabei fazendo isso mesmo... mas, como a rede é fartamente generosa em leitura inútil, já não é tão grande pecado...


P.S 2.: Gosto muito de reticências...(...)


P.S. 3.: Gosto muito de Parênteses...


P.S. 4.: Gosto muito de Post-Scriptum...

P.S.5.:  As letras estão grandes assim pq sou meio cego mesmo!


E eras isto... aguardando que Tiago dê seu ar da graça! (quase usei reticências de novo, que vício...)

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Sou o que sou, sem sombra de dúvidas.

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