quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sacanagem

Olha-me com urgência enquanto me ataca: Rápida e ágil. Não existem outros termos que definam melhor a maneira como se aproxima de mim e empurra-me para o cubículo fechado, longe das vistas do público que caminha apressado pelo local. Em menos de um minuto em sua mão já repousam duas calças e uma camiseta, minha camiseta, por sinal. E ainda antes que eu possa impedir, já repousam no chão outras peças, jogadas lá às pressas e de forma ofegante. Nunca vi a menina, e mesmo assim, não posso deixar de admirar sua desenvoltura no que faz agora, parece no mínimo acostumada a fazer assim, como está fazendo comigo, com outras centenas de rapazes por dia, sem um mínimo de vergonha de encarar-me enquanto a espiava, respirando cada vez mais rápido, em sua função de apressar-me a despir-me...
Depois de estar praticamente nu, passo a adentra-me em cada compartimento, trato de penetrar em cada espaço oferecido a mim por aquela menina que sem mais nenhuma palavra, vai simplesmente os trazendo diante de mim, e que nem ao menos faço força para resistir. Alguns destes apertados, justos, que quase não comportam meu porte avantajado, me fazem gemer enquanto tento forçar neles minha entrada, outros, mais folgados, quem sabe acostumados a serem experimentados por tantos outros, comportam meu tamanho de forma suave e agradável. Acabo-me suado, quase jogado ao chão, e com minha consciência a acusar-me de tamanha entrega a prazeres tão mesquinhos, tamanha gulodisse e tão pouca força de vontade em resistir à tentação. Demorei a acabar, e mesmo tendo me esforçado tanto para evitar tais pensamentos acusadores e para saciar-me, ainda estou insatisfeito e ainda mais frustrado do que antes.
Enquanto visto-me novamente, ainda a ouço falar obscenidades que fariam corar o mais pervertido frequentador daquele local de perdição, daquele comércio de sacanagem... Tais palavras ditas com tanta sem-vergonhice me arrepiam até agora, e só de lembra-las sobe-me um rubor incontrolável a face:

“-Todas essas peças, senhor, lhe custarão R$ 568,80. Algo mais?”

Minha reação, que foi sair correndo como louco de dentro da loja diante de tamanha afronta ao meu bolso quase vazio, deve ter assustado a moça, que depois de tanto procurar roupas que servissem neste corpo acima do peso e me agradassem, deve ter ficado uma arara por eu não as ter comprado.

Mas convenhamos, 500 paus por duas camisetas GG e uma calça jeans tamanho “gordo”, é no mínimo uma cabeluda sacanagem!

Diego Schirmer

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