quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dia dos pais - Um breve desabafo...

Me pediu um texto em homenagem ao seu pai. E eu, quase como que automaticamente, em menos de três minutos, enchi uma página de clichês bonitos, frases de efeito e máximas, quase todas, decoradas para serem ditas de forma robótica e insentimental, em situações como estas, em que não sei mesmo o que dizer. Sinto-me mal, agora que o texto entregue deve estar sendo passado a limpo, pela secretária de um cara cheio de grana, que mandará o citado texto para o seu velho, com belas frases escritas sem um único pingo de amor. Foram escritas por mim, para um pai de um quase estranho, para que um filho bem sucedido sinta em sua consciência a sensação de dever cumprido. Fórmula mágica, diga-se de passagem, são estes cartões comprados em lojas de lembranças, resgatados às pressas de dentro de uma caixa exposta no balcão, para que se tenha no coração o alívio do “fiz minha parte!”. Um cartão, um texto bonito escrito por um conhecido, um abraço, feliz dia dos pais, vamos logo acabar com este constrangimento...
Sinto pena daquele pai, que receberá meu texto escrito pela obrigação de um favor. Que tem um rico filho que não se digna a escrever um simples “Eu Te Amo”, mesmo que em infantis rabiscos numa folha de caderno, por ser muito mais fácil e conveniente comprar uma bela folha criada em escala industrial com dizeres genéricos impostos pelo comércio como emocionantes. Não que eu seja muito melhor que o filho em questão, já que os últimos presentes que dei ao meu coroa foram flores de plástico sobre um túmulo simples, alguma oração decorada no primário e poucas lágrimas que me forcei a derramar, para me sentir pelo menos mais humano, para me fazer acreditar, por segundos, que minha alma não havia sido devorada pela rotina e pelo costume. Perdi o meu pai cedo, quase não tive contato com ele e as poucas lembranças que guardo são de um homem cansado, esmagado pelo rolo compressor social, preocupado em ser o que a multidão esperava dele. Qualquer semelhança nem sei se é coincidência, não tive lá muito tempo de aprender algo com ele, e de qualquer forma, a maioria dos homens é isso mesmo, uma cópia imperfeita do modelo que a sociedade impõe. Homem trabalhador, casado, singularmente generalizado, com filhos e exemplos a dar. Engrenagem pouco azeitada a trabalhar até sua substituição, por uso excessivo.
Sinto pena daquele filho, que entregará ao seu genitor, ao senhor que junto de sua mãe o deu a vida, uma mensagem impessoal e que duvido tenha lido toda. Mas na verdade, quem sabe, seu pai nem leia a mensagem. Quem sabe, no final das contas, os cartões feitos sob a supervisão de sua mãe ou professora, na infância, mal tenham recebido um olhar do homem que tinha de sustenta-lo, e que só queria assistir ao jornal antes do sono preocupado. Dizem que os filhos seguem, inconscientemente os passos de seus antepassados.
Já compraste teu cartão, para seu pai e preparaste o abraço forçado? Já ensaiaste o cumprimento de chegada e a desculpa para, meia hora depois, cair fora da casa do velho?
Espero, com força e fé, que não.
Não sou ninguém para deixar mensagens bonitas para o dia dos pais. Não tive o meu, e tampouco tenho filhos. Mas eu sei o quanto faz falta, e isso me dá o direito a sentir inveja de quem tem e dizer: Perdoe-o, peça perdão, abrace-o, e mesmo que ele fuja, lhe deixe pelo menos saber que, embora tenha te machucado, se for esse o caso, é alguém importante. Não esqueça que o mundo também o fez sofrer. Não esqueça que o ser humano é falho, erra, e muitas vezes, demora-se a levantar. Falo como um filho que não pode mais tentar outra chance com um pai que pouco ensinou. Não darei presentes neste domingo. Também não os receberei. E isso, posso garantir, dói tanto quanto saber que quem tem essa oportunidade, a trata como simples passagem de data comercial.

Diego Schirmer

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