segunda-feira, 19 de julho de 2010

Segunda-feira: cansaço, nostalgia e uma promessa

Estou cansado. Não é a melhor frase para se iniciar um texto. Passa uma leve idéia derrotista. Não estou derrotado, estou cansado, pura e simplesmente. E como bônus ao meu cansaço mental, hoje é segunda feira.
Quando criança, eu, pleno de minhas convicções infantis de me tornar um roqueiro milionário, ou um arqueólogo famoso (nadando sozinho contra a correnteza de meninos que queriam ser pagodeiros ou boleiros ricos) nunca soube o que era estar cansado. Sobravam-me energias e estava sempre pronto para dominar o mundo, logo depois que conseguisse “virar” a fita do Super Mário. Nunca imaginei que chegaria a segunda feira em que desejaria ardentemente fingir-me de doente e dormir o dia inteiro, para recuperar-me de simplesmente ter tentado aproveitar os dois míseros dias que tenho de descanso, depois dos cinco dias que passaram estressantemente rápido e nem notei, já que sempre que me fingia de doente, para faltar a escola, dormir era sacrilégio imperdoável. Não tenho notado, aliás, o correr insano do tempo e hoje, um pouco tarde, tenho de dobrar-me diante da materna sabedoria de minha avó, que dizia que depois dos 15 anos, os 30 chegariam a cavalo. Invejo-a, já que seus trinta chegaram no charmoso trotar vagaroso de um eqüino. Os meus tem se aproximado em um coletivo lotado, conduzido por algum motorista psicopata e veloz, que muito provavelmente passará na maior poça ao meu lado, para ter o prazer de me encharcar. E não encostará no ponto, como a maioria dos ônibus que perdi até então.
O tempo passa, o tempo voa, e desta vez a musiqueta traz algo um pouco mais deprimente que a eminência de um domingo que esvaece, como acontecia quando o perdia diante de algum programa manjado na tevê.
Hoje de manhã passei a mão no rosto, e dei-me conta que meus dedos perdiam-se entre a barba que cresce rápido demais para o pouco tempo que me sobra, nos poucos momentos em que fico no lar que tanto luto para construir. Hoje de manhã, antes de levantar, notei que havia alguém aninhando-se entre meus braços na cama e senti seu cabelo cheiroso no meu peito sem camisa, e descobri que sem notar, passaram se anos longos e ainda assim rápidos, entre o momento em que meus hormônios adolescentes imploravam uma companheira e o momento em que agora, as vezes só me lembro dela quando chego em casa, cansado e irritado por passar o dia trabalhando com algo que gosto... Estranha e paradoxal, esta situação... Hoje de manhã, notei o café quente e forte, que me chama de volta ao mundo, e não consegui recordar quando foi que ele substitui a vitamina achocolatada que tomava antes de sair correndo e pulando para a escola. Ultimamente, aliás, só corro por estar atrasado e pulo de raiva, diante de um computador desalmado que teima em conspirar contra mim. Cresci, me tornei um adulto responsável e, em comparação com a grande maioria de meus conterrâneos, razoavelmente bem sucedido, com obrigações diante da sociedade e exemplos a dar, com compromissos e socializações frias e profissionais, ganhando meu salário, adquirindo e consumindo, correndo o tempo todo e vendo a idade chegar, acompanhada de rugas que considero precoces, a cada novo mês, a cada nova prestação, a cada novo eletro ou móvel. E isso tudo, perto da vida agradável, desregrada e sonhadora de quando era uma criança, muitas vezes, cansa.
Mas passa, com certeza, e prometo, mesmo não crendo mais nas minhas promessas, que nas férias deste ano, só levantarei da cadeira na beira do lago, para buscar mais cerveja e comida. Prometo que só olharei para o computador para ter certeza de que estará desligado, e que nas segundas feiras das minhas férias levantarei, como vingança cruel contra a segunda feira em que me encontro, só após as 11:00. Prometo que virarei a fita do Mário, mesmo que isso desperte o riso nos meus sobrinhos da geração Playstation 3, e assistirei todos os desenhos animados que passarem na tevê. E não tirarei a barba nem pentearei o cabelo um dia sequer. Prometo que retornarei nem que seja durante 30 dias ao que o homem é em sua essência: Uma criança. Que infelizmente, durante a idade adulta, está permanentemente de castigo.

Diego Schirmer

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