terça-feira, 18 de maio de 2010

Desabafo de um velho caquético, ignorante e preconceituoso...

“-Você é um ignorante, preconceituoso e chato!” – Foi a sábia e pesada sentença, emitida por um ser que, atrás da franjinha e da pesada maquiagem, identifiquei como sendo um adolescente, teoricamente do sexo masculino. Emitiu a frase – digo emitiu, porque as palavras foram praticamente sussurradas, entre os dentes, com ódio e revolta típicos dessa idade, o que me fez pensar em pequenos canibais juvenis, dançando ao som de “Fresno” ou algo que o valha, em torno do meu cadáver singelamente esquartejado com as próprias pequenas lâminas de apontadores, com as quais os mesmos ameaçam suicidar-se quando a mesada acaba antes da hora – emitiu a frase com toda a certeza e seriedade, do alto de sua imensa carga de experiência, adquirida ao longo de seus 12 ou 13 anos de vida, vividos intensamente, entre porres de achocolatado e perversos selinhos nos amigos, com o dinheiro e permissão de seus pais, obviamente.
Senti-me um velho. Senti-me um velho chato, ultrapassado e ignorante, que insiste em usar o mesmo preto da minha adolescência, me senti um velho preconceituoso e quadrado, por ainda insistir em escutar os mesmos blues e metais da minha recente “juventude”, me senti um obsoleto senhor da geração passada, há pouco mais de 10 anos atrás, quando ser um adolescente heterossexual ainda era normal, e nós, meninos, beijávamos meninas. Mas principalmente, me senti um velho deslocado e, enfim, caiu a minha ficha. Caiu a minha ficha de que a minha geração passou, minhas bandas preferidas e minhas camisetas negras caíram, que hoje eu sou o adulto detestado, responsável e vendido ao sistema capitalista. Senti-me um velho daqueles bem irritantes, saudoso de seus tempos áureos e criticando a geração mais nova.
E isso me agradou! Agradou-me como só agradaria a um velho vingativo, que enche o peito de ar, quase desmaia pelo esforço e diz: “Morram de inveja seus adolescentezinhos ridículos! Morram de inveja porque no meu tempo a gente tomava vinho de verdade, bagunçava de verdade, ouvia música de verdade e nunca precisou fingir uma ressaca ou pagar de depressivo para chamar atenção!” Hoje eu descobri que sou um chato, ignorante e preconceituoso para a geração atual, assim como os adultos os eram para a minha, e resolvi admitir isso, resolvi diante do mundo dizer que sou um cara atrasado e que vou continuar assim, pois ainda acho que blues e heavy metal são melhores que funk e emocore, que cerveja e vinho são melhores que bolachinha recheada e leite e que “Laranja Mecânica” é muito superior à “Crepúsculos” em geral. Hoje compreendo perfeitamente a frase “No meu tempo é que era bom...”. Hoje sei que os velhos secretamente zombavam de mim lembrando de suas glórias passadas, assim como eu mesmo o faço.

À propósito, o que desencadeou a fúria do adolescente de franjinha, que me fez despertar para o fato de que sou um caquético adulto inconveniente e atrasado, foi a seguinte frase dita por mim:
“-Cara, essa música do (acrescente aqui o nome de qualquer bandinha genérica que cante estridente e fale de coisas superficiais e fúteis) é uma m#$da... No meu tempo é que era bom...”.

Não era: Backstreet Boys e o Tcham são a maior prova disso. Mas pelo menos tinha o R.E.M. e Legião... Só que eles eram oitentistas... É... meu pai é que estava certo, bom mesmo era no tempo dele!

Diego Schirmer

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