segunda-feira, 28 de junho de 2010

Encontro sobrenatural (sim, é um relato sincero, e não, eu não estava bêbado...)

Bom... estávamos um amigo e eu, (na verdade um amigo que lê muito raramente este blog, então não merece ter seu nome aqui citado, hehehehe) conversando sobre muitas coisas genéricas e aleatórias, até que o assunto caiu numa área que muito me agrada e interessa: o insólito, o sobrenatural...
Acabei relatando a ele um ocorrido comigo e com uma prima que tenho como irmã, infelizmente já falecida, durante a nossa adolescência. Como modo de espantar a saudade que sinto dela e dessa época, escrevo meu "Relato Sobrenatural" a seguir, e deixo para que vcs tirem suas próprias conclusões...

Eu sei que foge bastante do padrão das postagens daqui, mas se as três pessoas que lêem o blog não gostarem, é só ignorarem este post. De qualquer forma além de ter sido um agradável exercício de escrita e memória, foi uma maneira interessante de relembrar uma fase boa da minha vida, com uma estranha experiência que compartilhei com minha maninha que hoje descansa...

Durante minha adolescência, por conta de alguns fatos particulares e enormes diferenças de opiniões, resolvi me mudar para a casa de meu tio, irmão de meu pai, onde fui recebido por ele e sua família (esposa e duas filhas, que tenho como irmãs muito queridas) com todo o carinho possível, o qual eu já não era mais acostumado desde a perda de meu pai aos 8 anos.
Pois bem, eu e minha prima, quase de minha idade, quando não estávamos na escola ou com alguns amigos, andávamos sempre juntos, realmente tínhamos um pelo outro o carinho de dois irmãos muito chegados, já que desde muito novinhos éramos super apegados, ainda mais depois que fui “adotado” por este tio.
Como minha tia dedicava-se muito a nós e a seus afazeres domésticos (éramos quatro pessoas, isso gerava muitas roupas para lavar e reforçados almoços para preparar) quase não lhe sobrava tempo para cuidar de si mesma durante o dia, por conta disso, sempre que precisava fazer as unhas ou cortar seu cabelo, acabava tendo de marcar estes compromissos para depois que chegávamos em casa, normalmente depois do salão ter fechado, pois como era amiga de longa data da dona do estabelecimento, esta a atendia sem problemas e com maior atenção, por ter já dispensado as habituais clientes. Muitas vezes, como é comum às donas de casa, o papo estendia-se até mais tarde, e nestas ocasiões, eu e minha prima fazíamos questão de buscá-la, pois isso nos permitia falar de nossas novidades, nossos namoros e planos futuros mais à vontade, além de que meu tio vivia atolado em provas para corrigir e planejamento de aulas para preparar, pois era professor em uma escola do estado e orientador e professor de um colégio particular, e quase nunca podia ir ao salão para buscar sua esposa. Na cidade onde morávamos (Taquara, há uns 70 km de Porto Alegre, capital do estado) havia ainda muitas “vilas” que por serem mais afastadas do centro, recebiam iluminação precária e tinham suas ruas em chão batido. No nosso caso, para chegarmos até o salão, ou cortávamos caminho por um enorme campo de gado, ou seguíamos pela mais antiga rua da cidade (a “estrada velha...”), mal iluminada, toda de decrépito calçamento centenário e chão batido. Por ser a rua mais antiga da cidade, ainda mantém seus casarões da época colonial e campos de pasto, e estava (está até hoje...) um tanto abandonada. Também esta estrada mantém as mais escabrosas histórias de acidentes, assassinatos e crimes, na memória dos mais velhos habitantes, desde o início da história da cidade, que hoje conta com mais de 150 anos. Mas vamos a história:
Certo dia, em torno das 22:00, sexta feira, quando nos dirigíamos ao objetivo citado, resolvemos que tomaríamos o caminho da estrada, pois como havia chovido recentemente, o campo por onde atalhávamos deveria estar todo enlameado. Da estrada, conseguíamos avistar quase todo o nosso habitual atalho, caminhando paralelamente a ele, pois era em um campo aberto, com poucas árvores e um pequeno matagal, e embora não houvesse nenhum poste de luz funcionando, a lua iluminava o caminho muito bem... E em dado momento do caminho, notamos uma pessoa vindo ao longe, em direção contrária à nossa, só que pelo atalho que havíamos evitado. Imaginamos que era nossa mãe, e começamos a acenar, para que ela nos visse, e viesse ao nosso encontro. Quando aquela pessoa aparentemente nos viu, virou-se imediatamente para nós, porém ao invés de contornar o mato para chegar a estrada, começou a vir por entre os arbustos e árvores, o que achamos estranho, por ser bem mais trabalhoso. O pavor começou quando notamos que não era ela, e sim algo que quanto mais se aproximava, aparentava ficar cada vez mais alto, o que não era o caso de nossa mãe, que era de estatura baixa.
Quando aquilo já estava mais próximo, e aparentando ter uns quase três metros de altura, notamos que não era alguém normal, por ser muito alto, porém extremamente vagaroso e desengonçado. Ainda víamos somente seu perfil, recortado contra a luz da lua, mas posso garantir que era mais alto que as árvores ao redor. Minha prima, já apavorada, apertou meu braço quase a deixá-lo roxo, e tentava arrancar-me do lugar em que eu estava com toda a sua força, mas eu não conseguia parar de olhar para aquilo, que, agora já bem mais perto, aparentava ter aproximadamente quatro metros de altura, tranqüilamente. Quando consegui parar de olhar e notar o medo que minha prima estava sentindo, notei que eu mesmo também estava tremendo, e começamos a correr, no escuro, pisando em poças e lama da estrada, na direção da próxima rua, onde esperávamos que houvesse alguma lâmpada e pessoas. Enquanto corríamos, olhamos para o lado, em direção à cerca de arame farpado que separava o campo da rua onde estávamos, e vimos como que se a sombra daquilo, estivesse vindo em nossa direção, como se fosse uma cobra, arrastando-se no chão.
Encontramos nossa mãe, e voltamos pelo mesmo caminho, sem nem olhar para o lado, temendo ver novamente aquele ser estranho, e quando chegamos em casa, longe dos ouvidos céticos de meu tio, contamos o acontecido para ela e para minha avó, que nos disse que meu pai e meu tio, quando jovens, detestavam passar pela mesma rua durante a noite, pois lhes parecia que as sombras sempre lhes perseguiam. Até pouco antes de falecer, minha amada prima confirmava de olhos arregalados esta história, e embora anos depois ríssemos e tentássemos encontrar uma explicação lógica para aquilo, foi muito estranho e, no momento em que aconteceu, apavorante.
Hoje sou um cara bastante cético, casado e consciente do mundo físico que nos cerca, porém, esta experiência nunca foi explicada logicamente, me deixando com certas dúvidas até hoje.

Diego Schirmer

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Flute Metal

Encontrei esta banda no youtube, que junta duas coisas que curto demais: metal e instrumentos clássicos, neste caso, flauta. O problema é que não descubro de jeito nenhum o nome da banda!!!!

De qualquer forma, um baita som!


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desabafo de um peito gelado - Outra autocrítica...

    Sempre amei o inverno. Quando criança adorava ver a geada branca sobre a grama, que praticamente partia-se congelada ao pisarmos nela. Achava o máximo os “caras importantes”, com seus sobretudos e maletas, gostava do inverno pelo fato de as pessoas vestirem-se bem, achava bonito as mulheres com casacos enormes, gostava acima de tudo do chocolate quente, do pinhão, de certas comidas gostosas que só o inverno permitia... Sentia-me ótimo aos domingos de manhã, a preguiça morna e aconchegante que minhas cobertas me faziam sentir, do pão caseiro quente, com a manteiga a derreter, de passar a tarde dormitando no sofá. Gostava até mesmo de ir para a escola nesses dias, mesmo com chuva, falar bobagens com os amigos, ler durante a aula e embranquecer os cabelos dos professores. Havia dias em que o termômetro marcava graus negativos, como é comum aqui no sul, e lá ia eu, cheio de roupas quentes, assoprando vapor e pulando sobre as poças de água gelada.
    Foi num desses dias, de frio extremo, vento cortante e garoa gelada, a caminho da escola, que vi muito deste amor morrer. Foi num destes dias que descobri uma das maiores crueldades da vida e perdi, inconscientemente, uma parte grande de minha boba inocência infantil. Foi num destes dias que um dos espinhos que carrego até hoje se cravou em mim e, contra a minha vontade, os invernos nunca mais foram os mesmos. A partir de então, uma culpa que tento disfarçar se apossa de mim sempre que sinto prazer no frio.
    Ele estava curvado, tentando de forma patética e inútil proteger-se do vento que o chicoteava forte, com água suja e gelada a escorrer de seus cabelos desgrenhados, pisando dolorosamente no chão, com apenas um dos pés calçados. Ele estava visivelmente embriagado, falando sozinho, amaldiçoando o dia que tanto me agradava, esquelético e pálido por trás da sujeira que o cobria. Era velho, ou pelo menos o tempo, que mais tarde descobri ser um cobrador ríspido e impaciente, assim o fazia parecer, e carregava uma sacola de pano quase podre e encharcada, que pingava, assim como seus cabelos, um líquido negro e grosso. Terminou de fuçar desesperançado no lixo e começou a caminhar na minha direção, trazendo consigo um cheiro forte, que nem a água que o lavava conseguiu dissipar, trôpego, e me olhando sem muita firmeza. Veio e passou, como um espírito morto e vago, ao meu lado, enquanto minha diminuta mente de criança tentava desvendar, apavorada, a visão que acabara de ter. Uma palavra vaga, uma leve lembrança de que já ouvira falar em seres assim, passou por minha cabeça e, um pouco em dúvida, pude nomear a coisa: “Mendigo...”. Formou-se então, neste momento, uma nova visão do inverno onde, enquanto eu ansiava pelo frio que me traria tardes de desenhos animados e doces, traria a algumas pessoas, e infelizmente muitíssimas outras pessoas, a dor e o sofrimento que só quem mora na rua sente com a chegada do tempo gelado.
    Hoje, anos mais tarde, ao descer do ônibus e encaminhar-me ao meu emprego, dentro de uma sala aquecida, diante de um computador e de um copo de café fervente, satisfeito com o verão que tardiamente acabou, novamente o espinho rasgou mais um pouco dentro de mim, e incomodou-me durante o restante do dia. No pequeno trajeto entre a rodoviária e o prédio onde trabalho, novamente deparei-me com um destes homens que teimosamente sobrevivem aos ataques da vida. Ao contrário do que aconteceu naquele dia, não foi o aspecto do homem sujo, tremendo por conta dos oito graus e do vento frio que praticamente o atravessava, que me assustou. O que me assustou realmente foi, horas mais tarde, quando me apercebi do fato, a frieza, ainda maior que a da manhã, com que desviei do homem e despreocupado continuei em meu caminho, absorto nos planos do feriado que se aproxima. Descobri que a criança confusa e triste, que o adolescente idealista e socialista, que o jovem adulto engajado em planos sociais congelou, quem sabe devido aos muitos invernos que passou discutindo formas de mudar a sociedade, dentro de uma sala aconchegante, entre goles de vinho e sonhos revolucionários vazios e sem sentido. Esse frio interior ainda é pior. Este é o frio que impomos às crianças e velhos que passam a noite cobertos de jornais enquanto dentro das casas aquecidas olhamos novelas, ouvimos músicas e geramos outros frios descendentes que um dia, pelo menos uma vez na vida, terão de encarar, constrangidos e confusos, um destes frutos da sociedade em que vivemos e construímos. Um destes frutos sujos, descabelados, famintos e feridos que tanto contrastam com nossos filhos bem alinhados e alimentados.
O que faremos pra mudar? Não sei, mas sei o que EU farei. Há os que oram nas igrejas, há os que criticam o governo, há os que fecham os olhos e há uma raça a qual eu quero pertencer, a raça que se doa. Que doa. Que ajuda e não finge que o problema é invisível. Há o que passa pelo mendigo revirando sua própria lixeira e ainda preocupa-se com a sujeira que o pobre irá fazer. Não quero ser este, embora esteja como ele tornando-me gelado. Temos roupas que não mais servem que estão guardadas. Temos alimento que nos sobra e jogamos aos nossos cães que comem melhor que estes que cito. Temos pernas e braços. Temos direito de voto e escolha. Temos saúde e temos tempo, pelo menos os 90 minutos do futebol que enriquece quem pouquíssimo ajuda o país que o gerou. Só não temos o calor humano, vital, que nos escapa a cada vez que nos alienamos com o pão e circo que nos é oferecido pela mídia e pelos governantes.
    Doe este inverno. Aqueça os seus sentimentos. Quando eles finalmente congelarem você estará tão morto quanto as folhas que caíram, sem cor, nos últimos dias, e será ainda mais pobre que o pobre sobrevivente que lhe pede o calor e o pão.

Diego Schirmer

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