quarta-feira, 28 de julho de 2010

Processo de Reavaliação I

Há momentos na vida em que velhas roupas devem ser encaminhadas à doação, ou ao lixo. Momentos em que livros velhos deixam de ter histórias para contar para você, e precisam contar aos outros sobre o que trazem dentro de si. Do ponto de vista de quem se desfaz, muitas vezes pode ser algo doloroso. Carregamos costumes, manias, hábitos às vezes desnecessários, mas nos apegamos demais a isso e é difícil abandona-los. Nossa carente condição humana nos faz ter de agarrar em coisas que nos dêem segurança, que nos mantenham na rotina e com isso nos façam parecer que está tudo bem. Mas às vezes não está. O medo de coisas novas, o receio em quebrar cadeias psicológicas e vícios reconfortantes no faz perder inúmeras possibilidades de seguir adiante. Na verdade, este medo, nos faz também impedir que os livros, as roupas e as pessoas tenham um fim muitas vezes bem mais nobre do que permanecerem presos a nós por causa de egoísmo, por causa de conforto.
Eu gostaria hoje de deixar para trás tudo o que me aprisiona, tudo o que me impede de seguir e ser mais feliz. Eu quero deixar que estas coisas sigam em frente. Mas é difícil. É sofrimento deixar de fazer coisas que me trazem segurança, mas mesmo assim, me fazem infeliz. Me pergunto, porque o ser humano tem de viver em tão estranhos paradoxos. Me pergunto porque há tanta confusão na mente do homem e da mulher. Porque é tão difícil crescer, porque o karma, a cruz, o destino, o fardo, chame como quiser, tem de ser tão pesado? Não seria muita mais fácil tentar ser feliz dando vazão à loucura que nos invade e faz querer sumir, colocar mochila nas costas, seguir e parar sempre que se dá vontade? O budismo diz que nos apegamos ao sofrimento desnecessariamente. O Cristianismo diz que Jesus liberta, o espiritismo prega o aprendizado a cada nova vida, e diz que quanto antes deixarmos de sofrer, antes nos tornaremos seres de luz, cada crença prega uma forma diferente de se libertar da dor. E mesmo assim, a amarramos nas costas e a arrastamos conosco, pesada e exaustiva companhia, por segurança, por medo, por receio. O homem, em seus primórdios como raça, quando deixava de encontrar o sustento (a felicidade, de acordo com seus instintos primitivos...) mudava de lugar, desapegava-se e tentava de novo, e de novo, e de novo... Estamos desonrando nossos antepassados, tornando-nos gordos espécimes, qual gatos castrados, confortáveis em uma vida cujo único sentido é... é qual? Você sabe qual é o sentido de tanto trabalhar, contribuir com a sociedade e morrer deixando para bancos, empresas e para o governo o que lutamos duramente para conquistar? Por favor, se souber, me diga, e me salve...
Eu digo por mim, ando em reavaliação, pesando e medindo tudo, vendo o que realmente vale a pena e juro, me entristeci com o que descobri. Um bom emprego, carro, casa, rotina segura... Há uns dez anos atrás, sonhava que hoje estaria escalando montanhas, praticando rappel, trabalhando durante a semana e nos finais dela, vivendo. Ao contrário, trabalho, trabalho e trabalho. O garoto está com pena do adulto. O vejo balançando a cabeça e rindo do prematuro velho responsável que teve de cortar o cabelo e usar gravata, coisa que simplesmente odeia. Gravata, aliás, era motivo de riso descontrolado na infância. Hoje no espelho, tal como corda de forca, não me parece tão engraçada.
Mas estou juntando coragem, juro que ainda mando fotos do monte Everest pra vocês. Deixar de acreditar é permitir que a alma decomponha dentro de um corpo sadio. Algum sábio disse isso, não lembro qual. Pode ser que tenha sido eu, ou Gandhi.
Em um ato de grande crueldade convido você que dignou-se a ler estas linhas a questionar sua vida, descobrir honestamente se você se tornou o que sonhava, ou se permitiu-se ser fustigado nas costas pelo sistema (frasesinha punk besta... Mas não resisti). Se não estiver satisfeito, excursões para o Everest, no meu email...

Diego Schirmer

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